Lembro do primeiro p&ocirc;r-do-sol que vi aqui. Era mar&ccedil;o de 2022, tinha chegado naquela madrugada com duas malas, incont&aacute;veis d&uacute;vidas e uma esperan&ccedil;a gigante de fazer daqui meu lar, ainda que tempor&aacute;rio. Ainda com resqu&iacute;cios de chuva, o c&eacute;u se abriu para que eu contemplasse o que me completasse pelos pr&oacute;ximos anos. Aquele colorido t&iacute;mido do c&eacute;u, com um sol forte alaranjado se despedindo me mostrava que esse novo lugar me forjaria uma nova pessoa.
Tive o privil&eacute;gio de acompanhar o fim do dia colorido pela janela da kitnet em que morei. Era um ritual sagrado: 17h28 eu j&aacute; estava a postos para me teletransportar. Ainda que a rotina engolisse, ainda que o psicol&oacute;gico mexesse, ainda que a cabe&ccedil;a esquecesse. Era mirar o c&eacute;u que tudo se fazia revolu&ccedil;&atilde;o aqui dentro.
<img src="https://gestor-manchetedotocantins.nvgo.app/assets/d6e2b9fa-03aa-447e-9627-127f1ce18885.jpeg?width=850&amp;height=500" alt="Foto: Arquivo Pessoal">
Mais do que cores, Palmas me trouxe intimidade. Talvez pelo jeito interiorano da capital mais nova do pa&iacute;s, talvez pela pouca idade, talvez pelas mesmas pessoas que se encontrasse no supermercado ou no restaurante. Mas mais do que isso. A intimidade comigo mesmo. Foi aqui, sob o calor escaldante independente da &eacute;poca do ano, que olhei mais para mim mesmo &ndash; e percebi que esse &eacute; um movimento natural dos migrantes para c&aacute;. Foi aqui, sob o c&eacute;u colorido e as araras azuis indo de uma &aacute;rvore a outra, que sorri sem perceber &ndash; a tal da felicidade que tanto falam. Foi aqui, no caminho de poeira, ruas esburacadas, pr&eacute;dios abandonados que constru&iacute; um caminho que &eacute; s&oacute; meu &ndash; ou a estrada que faz o sonho acontecer, como diz meu artista preferido.
Da cultura local, absorvo o orgulho de pertencer. Ainda que munido de cr&iacute;ticas sobre os altos pre&ccedil;os de moradia e alimenta&ccedil;&atilde;o, a falta de diversidade na programa&ccedil;&atilde;o cultural, o pertencimento abra&ccedil;ado pelas quadras nos d&aacute; a sensa&ccedil;&atilde;o de comunidade que somente uma cidade t&atilde;o calorosa pode proporcionar.
A cidade do sonho &eacute; a realidade dura de muita gente. Que cruza a capital em condi&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias de transporte, mas que tamb&eacute;m se delicia com o relaxamento no fim de semana. Que v&ecirc; um horizonte de oportunidades a cada amanhecer como incentivo para seguir lutando. Que contempla o que h&aacute; de vir com o sorriso cansado no rosto, mas se orgulha a cada vez que &eacute; citada mundo afora.
Se o p&ocirc;r-do-sol &eacute; o desenho que se pinta o encerramento tranquilo de um dia pesado e a esperan&ccedil;a reluzente do que pode vir a acontecer, &eacute; esse o sentimento que me guia nesse quarto anivers&aacute;rio em que chamo esta cidade de lar. De esperan&ccedil;a de que o alaranjado do c&eacute;u colora o pensamento e imagin&aacute;rio de quem o vive, de horizonte farto de planos e sonhos que aqui se constroem e da for&ccedil;a que as cores e os girass&oacute;is guardam. 
Marco T&uacute;lio C&acirc;mara &eacute; jornalista, escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Tamb&eacute;m &eacute; professor do curso de Jornalismo e do Programa de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o em Comunica&ccedil;&atilde;o e Sociedade da UFT. Doutor em Lingu&iacute;stica Aplicada pela Unicamp, &eacute; autor de &ldquo;Entrelinhas&rdquo; e dos livros &ldquo;Gest&atilde;o de Conte&uacute;do para M&iacute;dias Sociais&rdquo; e &ldquo;Planejamento Integrado de Comunica&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

Palmas, 4 de maio de 2025, 20h30. 15 minutos antes da sess&atilde;o come&ccedil;ar e ainda n&atilde;o&nbsp; havia alcan&ccedil;ado o n&uacute;mero m&iacute;nimo de espectadores para que o filme fosse exibido -&nbsp;cinco pessoas. No mesmo hor&aacute;rio, um dia antes, na praia de Copacabana, um p&uacute;blico&nbsp; estimado de 2 milh&otilde;es de pessoas aguardavam o show hist&oacute;rico que come&ccedil;aria por volta&nbsp; 1h30. &nbsp;
Este texto poderia ser uma cr&iacute;tica &agrave; desvaloriza&ccedil;&atilde;o da cultura nacional, &eacute; verdade, mas&nbsp; n&atilde;o &eacute; esse o objetivo. No hor&aacute;rio marcado para iniciar o filme, o cinema j&aacute; estava com&nbsp; um p&uacute;blico at&eacute; consider&aacute;vel e a sess&atilde;o aconteceu normalmente, com risos, emo&ccedil;&otilde;es e&nbsp; aplausos no final. Tal qual o show-espet&aacute;culo para uma multid&atilde;o. &nbsp;
Gaga entoava sobre aceita&ccedil;&atilde;o. N&atilde;o a de outras pessoas, mas a pr&oacute;pria. Em uma esp&eacute;cie&nbsp; de hino, milh&otilde;es de pessoas bradavam que n&atilde;o h&aacute; nada de errado em amar quem voc&ecirc; &eacute;.&nbsp; O canto de liberta&ccedil;&atilde;o foi o afago de uma gera&ccedil;&atilde;o que conseguia se ver representada por&nbsp; meio da arte, ainda que internacional. De pessoas que dan&ccedil;avam escondidas no quarto,&nbsp; decorando as coreografias emblem&aacute;ticas dos videoclipes que n&atilde;o sa&iacute;am da parada de sucesso.
Naquela noite de s&aacute;bado, essas pessoas se reconheciam, se abra&ccedil;avam, batiam&nbsp; leque e se amavam. N&atilde;o aos outros, mas a si mesmos. Em uma conex&atilde;o m&uacute;tua e&nbsp; compreens&atilde;o de olhar, acolhiam-se no respeito para n&atilde;o mais se esconder, enquanto a&nbsp; cantora favorita incentivava que n&atilde;o era para se esconder no seu arrependimento, pois&nbsp; todos li nasceram para ter coragem. &nbsp;
Na sala de cinema, poucas dezenas de pessoas dedicaram o fim melanc&oacute;lico de um&nbsp; domingo chuvoso para ver a hist&oacute;ria de um Artista brasileiro na telona. Assim mesmo,&nbsp; com A mai&uacute;sculo. Do teatro, da emo&ccedil;&atilde;o, da entrega, do choro contido, da coragem de enfrentar o pai, da intensidade de se viver da arte, da m&uacute;sica que escolheu o seu&nbsp; caminho.
<img src="https://gestor-manchetedotocantins.nvgo.app/assets/0eec277e-62e7-47ea-8832-4cc7ddcd3615.jpg?width=850&amp;height=500" alt="Foto: Divulga&ccedil;&atilde;o">
Ney Matogrosso olhava fundo nos olhos de cada espectador que assistia&nbsp; at&ocirc;nito toda aquela for&ccedil;a entendida como revolta nos anos 60. Maior que o brilho no&nbsp; olhar e mais ousado que o figurino, o cantor que ali nascia e que a gente j&aacute; conhece,&nbsp;ganhou outra roupagem. Da sensibilidade, das conversas dif&iacute;ceis, da repress&atilde;o sofrida.&nbsp; Mas ele se manteve. Mas ele sobreviveu. Mas ele seguiu.&nbsp;
Parecia at&eacute; que ele j&aacute; previa os versos que pediam para n&atilde;o se esconder ou aquela carta&nbsp; musicada anos mais tarde sobre acordar com medo, mas sem chorar nem reclamar&nbsp; abrigo. &nbsp;
Porque, em todos esses anos, a arte o abrigava. Foi o teatro que o inspirava a ser quem&nbsp; quer que fosse, pois ali a liberdade n&atilde;o tinha limite. Foi a m&uacute;sica que o libertou de ser afeminado, pois as notas n&atilde;o olham g&ecirc;nero. Foi a sedu&ccedil;&atilde;o que o permitiu viver os tantos amores que estavam guardados na cama do dormit&oacute;rio militar. Foi a confian&ccedil;a em ser quem se &eacute; que o levou para todas as salas de jantar de pessoas ocupadas em nascer. E morrer. &nbsp;
Mas n&atilde;o ele. Ele nasceu para brilhar, j&aacute; dizia Caetano. Ele nasceu para amar o&nbsp; inventado, j&aacute; dizia Cazuza. Ele nasceu para ser leve, pluma, nuvem azul, simples e suave coisa nenhuma, j&aacute; dizia Ney. &nbsp;
E, aqui, cabem todas as conjuga&ccedil;&otilde;es de pessoas da l&iacute;ngua. Porque se o que a vida quer&nbsp; da gente &eacute; coragem, como diria Rosa, sentimos que &eacute; preciso ter coragem para ousar ser&nbsp; livre. E voar.&nbsp; 
Marco T&uacute;lio C&acirc;mara &eacute; jornalista, escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Tamb&eacute;m &eacute; professor do curso de Jornalismo e do Programa de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o em Comunica&ccedil;&atilde;o e Sociedade da UFT. Doutor em Lingu&iacute;stica Aplicada pela Unicamp, &eacute; autor de &ldquo;Entrelinhas&rdquo; e dos livros &ldquo;Gest&atilde;o de Conte&uacute;do para M&iacute;dias Sociais&rdquo; e &ldquo;Planejamento Integrado de Comunica&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

O ambiente virtual vicia mais que coca&iacute;na A afirma&ccedil;&atilde;o contida no t&iacute;tulo deste artigo &eacute; do m&eacute;dico-cirurgi&atilde;o franc&ecirc;s Laurent Alexandre em seu livro mais recente A guerra das intelig&ecirc;ncias na era do chatgpt, lan&ccedil;ado em 2024. Para ele, "amanh&atilde;, a realidade virtual nos enfeiti&ccedil;ar&aacute;, pois a IA saber&aacute; exatamente como fascinar nosso c&eacute;rebro e mant&ecirc;-lo sob seu dom&iacute;nio". Esse feiti&ccedil;o ser&aacute; poss&iacute;vel porque a intelig&ecirc;ncia artificial ser&aacute; capaz de fornecer a cada pessoa na tela do seu smartphone ou do computador o conte&uacute;do na medida exata do seu gosto. Essa entrega de conte&uacute;do personalizado se baseia nas informa&ccedil;&otilde;es gen&eacute;ticas, cognitivas e subjetivas, que possibilitam a IA fazer uma leitura mais profunda e acertada a respeito da pessoa que ela pr&oacute;pria.&nbsp;
&Eacute; verdade que esse tipo de personaliza&ccedil;&atilde;o talvez ainda n&atilde;o seja totalmente poss&iacute;vel, mas &eacute; ineg&aacute;vel que vest&iacute;gios de sua exist&ecirc;ncia j&aacute; podem ser comprovados por cada um de n&oacute;s que faz uso, por exemplo, de uma rede social como Instagram ou Facebook. Nesse sentido, Yuval Harari, em seu livro recente Nexus: uma breve hist&oacute;ria das redes de informa&ccedil;&atilde;o, da Idade da Pedra &agrave; intelig&ecirc;ncia artificial, de 2024, argumenta que os computadores, por meio da intelig&ecirc;ncia artificial, embora n&atilde;o sintam dor, amor ou medo, "s&atilde;o capazes de tomar decis&otilde;es que maximizam o envolvimento do usu&aacute;rio e ainda podem afetar importantes acontecimentos hist&oacute;ricos".
N&atilde;o &eacute; de estranhar, ent&atilde;o, que, com base em todas as nossas informa&ccedil;&otilde;es dispon&iacute;veis na internet e na internet das coisas, o mundo virtual possa se tornar um v&iacute;cio, alimentando-nos dia e noite exatamente do que mais gostamos. O que pode ser mais viciante? As redes sociais, com o recurso da tela infinita, podem ser um bom exemplo de que este futuro, na verdade, j&aacute; chegou.
<img src="https://gestor-manchetedotocantins.nvgo.app/assets/9bff575a-39f7-45dc-afdd-bc28612fd920.png?width=850&amp;height=500" alt="Foto: ChatGPT Image ">
Primeiro passo: aceite que a intelig&ecirc;ncia artificial j&aacute; &eacute; uma realidade Como cada um de n&oacute;s pode se proteger desse v&iacute;cio e, tamb&eacute;m, ajudar as pr&oacute;ximas gera&ccedil;&otilde;es a navegar nesse admir&aacute;vel novo mundo com mais seguran&ccedil;a? Acredito que o primeiro passo &eacute; reconhecer que a revolu&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica, que inclui os avan&ccedil;os da intelig&ecirc;ncia artificial, &eacute; um fato, e que n&atilde;o h&aacute; retorno. O melhor que podemos fazer &eacute; evitar o fasc&iacute;nio e a ignor&acirc;ncia. Nenhum dos dois extremos &eacute; saud&aacute;vel. Como argumentam Mustafa Suleyman e Michael Bhaskar, em seu livro A pr&oacute;xima onda: intelig&ecirc;ncia artificial, poder e o maior dilema do s&eacute;culo XXI, a intelig&ecirc;ncia artificial j&aacute; chegou e se configura como uma onda a qual n&atilde;o se pode conter, trazendo benef&iacute;cios e perigos potenciais a toda humanidade. O melhor que podemos fazer &eacute; ser l&uacute;cidos e adotar um posicionamento cr&iacute;tico diante dessa realidade que j&aacute; faz parte da nossa paisagem di&aacute;ria.
Segundo passo: o exerc&iacute;cio do limite e da responsabilidade O segundo ponto se relaciona a limites. Gosto muito da met&aacute;fora do psicanalista brasileiro Jorge Forbes sobre o restaurante. N&atilde;o &eacute; porque h&aacute; de tudo no restaurante que voc&ecirc; precisa, necessariamente, colocar de tudo no seu prato. N&atilde;o &eacute; porque h&aacute; seus pratos preferidos que voc&ecirc; deve se empanturrar. Um limite, &eacute; claro, precisa ser imposto: no caso do adulto, por ele mesmo, e no caso de menores, pelos seus cuidadores. O mesmo se aplica a todos os demais campos da vida, em particular ao que pode ser ofertado no mundo digital por meio da IA. &Agrave; medida que a estrutura social oferece uma liberdade que parece infinita, cabe a cada um aprender a exercitar seus pr&oacute;prios limites. No caso dos cuidadores e educadores, o princ&iacute;pio responsabilidade deve convocar a cada um a exercitar esse ato de amor, que &eacute; ensinar as novas gera&ccedil;&otilde;es a fazer escolhas l&uacute;cidas e respons&aacute;veis, o que exige, certamente, sabedoria e coragem.
N&atilde;o resta a menor d&uacute;vida que com o avan&ccedil;o da intelig&ecirc;ncia artificial, saber fazer escolhas e se impor limites ser&atilde;o cada vez mais habilidades essenciais. Talvez, hoje mais do nunca, vale a m&aacute;xima de Jorge Forbes: primeiro se &eacute; respons&aacute;vel, depois &eacute; que vem a liberdade. Se n&atilde;o tivermos cuidado, a imensa liberdade de consumir o que h&aacute; de mais gostoso, porque personalizado, no ambiente digital, ser&aacute; uma pris&atilde;o nossa do dia a dia, volunt&aacute;ria e sem grades. Com certeza n&atilde;o queremos isso, nem para n&oacute;s, e nem para nossos filhos.
*Francisco Neto Pereira Pinto &eacute; professor universit&aacute;rio, escritor e psicanalista. Doutor em Ensino de L&iacute;ngua e Literatura. &Eacute; autor de &Agrave; beira do Araguaia. Instagram: @francisconetopereirapinto

A morte do papa Francisco ainda reverbera em meu cora&ccedil;&atilde;o. Na semana de sua partida, minha rotina perdeu o brilho. O trabalho n&atilde;o rendeu, os sorrisos desapareceram e a sensa&ccedil;&atilde;o era a de ter perdido um parente pr&oacute;ximo. Sua aus&ecirc;ncia deixou um vazio dif&iacute;cil de explicar, mas reconforta ver que sua partida uniu pessoas de diferentes cren&ccedil;as e religi&otilde;es. Francisco foi um exemplo de bondade traduzida em gestos concretos e palavras inspiradas pelo Evangelho.
Entre tantos momentos marcantes de seu pontificado, uma frase ecoar&aacute; para sempre na minha mem&oacute;ria: &ldquo;Quem sou eu para julgar?&rdquo; A resposta foi dada &agrave; jornalista Ilze Scamparini, da TV Globo, durante uma viagem de volta do Brasil para Roma, ao ser questionado sobre os fi&eacute;is homossexuais. Essa simples, mas poderosa frase, abriu as portas da Igreja Cat&oacute;lica para um debate necess&aacute;rio e urgente. Em 2023, esse gesto culminou em um documento que autorizou a concess&atilde;o de b&ecirc;n&ccedil;&atilde;os a casais homoafetivos - um passo importante na aproxima&ccedil;&atilde;o da comunidade LGBTQIAP+ da Igreja.
<img src="https://gestor-manchetedotocantins.nvgo.app/assets/ab0e7058-7898-43c5-83c4-18e1a692953b.jpg?width=850&amp;height=500" alt="Foto: Divulga&ccedil;&atilde;o">
Francisco acreditava na simplicidade. Valorizava o bem comum, preocupava-se com as crian&ccedil;as, com os idosos e tamb&eacute;m com as pessoas marginalizadas. N&atilde;o hesitava em manter abrigos para mulheres trans v&iacute;timas de viol&ecirc;ncia. Tinha um olhar acolhedor e esperan&ccedil;oso. Era o papa da escuta, do di&aacute;logo, da tentativa incans&aacute;vel de promover a paz. Buscou, mesmo em seus &uacute;ltimos anos, intermediar o fim do conflito entre R&uacute;ssia e Ucr&acirc;nia. Partiu, infelizmente, sem ver a paz t&atilde;o sonhada.
Desde ent&atilde;o, o mundo parece mais dif&iacute;cil, como um inverno escuro e triste. Tento afastar esse pensamento, mas me perco entre l&aacute;grimas e ora&ccedil;&otilde;es. Ainda assim, acredito - e rezo - para que o pr&oacute;ximo papa caminhe pelos mesmos trilhos deixados por Francisco, e que a sua heran&ccedil;a de empatia, di&aacute;logo e compaix&atilde;o continue a transformar o mundo. Como disse minha amiga, Carolyne Silva, evang&eacute;lica, em um abra&ccedil;o no corredor do trabalho:&nbsp; &ldquo;Professora, n&atilde;o s&atilde;o s&oacute; os cat&oacute;licos que est&atilde;o sofrendo&rdquo;.
Papa Francisco nos ensinou que a f&eacute; n&atilde;o deve separar, mas somar. Que as religi&otilde;es, quando guiadas pelo amor, s&atilde;o pontes - n&atilde;o muros. Obrigada, querido papa, por abrir os olhos e os cora&ccedil;&otilde;es de tantas pessoas. Que seu legado permane&ccedil;a vivo entre n&oacute;s.
Julienne Silveira &eacute; mestra em Letras pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e graduada na mesma &aacute;rea pela UFT. Ela escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Atualmente, coordena a Escola de Extens&atilde;o vinculada &agrave; Pr&oacute;-Reitoria de Extens&atilde;o, Cultura e Assuntos Comunit&aacute;rios (Proex) da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins).

Como no livro e no filme hom&ocirc;nimos, o Conclave que escolher&aacute; o sucessor do papa Francisco marcar&aacute; mais do que o fim de um pontificado. Em tempos de colapso das grandes narrativas, a figura do papa transcende a religi&atilde;o institucional - ocupa ainda um lugar simb&oacute;lico, afetivo, pol&iacute;tico.
No Brasil, esse reflexo tem contornos pr&oacute;prios. Segundo o IBGE de 1991, os cat&oacute;licos representavam 83% da popula&ccedil;&atilde;o. Em 2010, o percentual caiu para 64,6%. J&aacute; em 2022, estranhamente, o Instituto n&atilde;o informou dados sobre religi&atilde;o. Naquele ano, o Datafolha apontou 49% de cat&oacute;licos, confirmando a tend&ecirc;ncia de queda.
Na contram&atilde;o da ladeira, os evang&eacute;licos avan&ccedil;am sobre as engrenagens pol&iacute;ticas e a popula&ccedil;&atilde;o, obtendo 31% de fi&eacute;is no Brasil. Ainda assim, a figura do papa segue como refer&ecirc;ncia moral para muitos - inclusive ex-cat&oacute;licos.
A religi&atilde;o n&atilde;o define o voto, mas organiza sentidos: atua no afeto, na linguagem, na percep&ccedil;&atilde;o do aceit&aacute;vel. E &eacute; a&iacute; que sua for&ccedil;a opera. Segundo o Pew Research Center, 72% dos brasileiros dizem que a religi&atilde;o &eacute; &ldquo;muito importante&rdquo;. No entanto, essa devo&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se traduz em submiss&atilde;o: enquanto 45% apoiam que l&iacute;deres religiosos influenciem decis&otilde;es pol&iacute;ticas, 56% (Datafolha/2022) rejeitam que digam em quem votar. O Brasil &eacute; devoto, mas desconfiado.
Nesse contexto amb&iacute;guo, o papado de Francisco simbolizou um cristianismo do cuidado e da inclus&atilde;o. Mas o que mais cresceu aqui foi o cristianismo do combate: antiaborto, antidiversidade, antioutro.&nbsp;
N&atilde;o &eacute; s&oacute; disputa teol&oacute;gica. Tamb&eacute;m &eacute; disputa de linguagem e apropria&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica da f&eacute;: a Igreja Cat&oacute;lica fala de cima para baixo. O pentecostalismo, de baixo para cima. O catolicismo oferece sentido; o pentecostalismo, presen&ccedil;a. Onde um prop&otilde;e cuidado, o outro promete vit&oacute;ria.
Entretanto, mesmo em decl&iacute;nio num&eacute;rico, o catolicismo segue estrutural no Brasil - como o machismo e o racismo. Sua heran&ccedil;a molda o vocabul&aacute;rio da justi&ccedil;a, da compaix&atilde;o, da autoridade e da obedi&ecirc;ncia. Em um pa&iacute;s onde 72% ainda se declaram crist&atilde;os, ignorar o papel da religi&atilde;o &eacute; erro estrat&eacute;gico.&nbsp;
Nesse cen&aacute;rio, a escolha do novo papa ter&aacute; efeitos que v&atilde;o al&eacute;m do Vaticano. Entre os progressistas, circulam nomes como Luis Antonio Tagle e Matteo Zuppi. Entre os moderados, Pietro Parolin e Pierbattista Pizzaballa. No conservador, P&eacute;ter Erdő e Raymond Burke. Um papa progressista poder&aacute; fortalecer pautas de inclus&atilde;o. Um conservador poder&aacute; legitimar projetos centrados em tradi&ccedil;&atilde;o e autoridade. Um moderado manter&aacute; a tens&atilde;o aberta - e o impacto depender&aacute; da recep&ccedil;&atilde;o local.
O campo progressista afastou-se da linguagem da f&eacute;. Cedeu espa&ccedil;o &agrave; extrema-direita, que o ocupou com disciplina emocional. Reverter isso n&atilde;o exige p&uacute;lpito, mas escuta e narrativa.
Nas elei&ccedil;&otilde;es de 2022, Lula venceu entre cat&oacute;licos (57%) e Bolsonaro entre evang&eacute;licos (65%). Lula teve apenas 31% dos votos evang&eacute;licos. A margem final foi estreita, n&atilde;o custa lembrar.
Quando a fuma&ccedil;a subir da Capela Sistina, o que importar&aacute; ser&aacute; o tipo de calor que a gerou: concilia&ccedil;&atilde;o ou confronto? Tradi&ccedil;&atilde;o ou renova&ccedil;&atilde;o? Justi&ccedil;a ou autoridade? Por isso, aten&ccedil;&atilde;o: a fuma&ccedil;a ser&aacute; branca - mas poder&aacute; dar outras cores ao imagin&aacute;rio das elei&ccedil;&otilde;es brasileiras.
*Maur&iacute;cio Carvalho &eacute; publicit&aacute;rio e estrategista de marketing pol&iacute;tico

N&atilde;o teria como ser outro assunto. N&atilde;o &eacute; que a morte do papa Francisco tenha pegado algu&eacute;m totalmente de surpresa, mas depois da apari&ccedil;&atilde;o e das falas fortes durante a Semana Santa, a esperan&ccedil;a de t&ecirc;-lo nesse plano terreno se intensificou. Francisco falava para multid&otilde;es, mas tocando o cora&ccedil;&atilde;o de cada um. Pregava em pra&ccedil;a p&uacute;blica, mas aqui do interior do Brasil era poss&iacute;vel sentir sua presen&ccedil;a, sua luz, sua energia, sua f&eacute;, sua entrega. Era como se tivesse falando olhando nos nossos olhos, pegando a m&atilde;o estendida ou rindo de canto de boca ao avistar um cachorro.&nbsp;
Essa descri&ccedil;&atilde;o n&atilde;o &eacute; romantizada nem irreal. Das in&uacute;meras imagens do papa nesta segunda-feira, algumas chamaram minha aten&ccedil;&atilde;o. Destaco, aqui, duas: o carinho no cachorro e a homilia durante a pandemia de Covid-19.&nbsp;
<img src="https://gestor-manchetedotocantins.nvgo.app/assets/b8b54d4b-b5a2-44aa-984a-a84f737786c1.jpg?width=850&amp;height=500" alt="Foto: Reprodu&ccedil;&atilde;o">
A foto &eacute; de janeiro deste ano, quando o pont&iacute;fice recebeu artistas de circo. O registro imortaliza o papa brincando com um cachorro da trupe. Leve, sorridente, surpreso com a arte ali &agrave; frente, Francisco mostrava o que ele sempre demonstrou nesses 12 anos de papado: era humano. Daqueles que se impressiona e se emociona ao ver uma manifesta&ccedil;&atilde;o art&iacute;stica, que sorri ao brincar com um cachorro e que acolhe uma crian&ccedil;a que ainda n&atilde;o consegue verbalizar tudo o que deseja, que consola e compreende, como remete a ora&ccedil;&atilde;o de S&atilde;o Francisco de Assis- n&atilde;o &agrave; toa, o protetor dos animais.&nbsp;
<img src="https://gestor-manchetedotocantins.nvgo.app/assets/419f1f11-2ba3-499f-a6de-15e56e3ca776.jpg?width=850&amp;height=500" alt="Foto: Reprodu&ccedil;&atilde;o "> Em meio &agrave; maior pandemia do s&eacute;culo, a imagem do papa Francisco atravessando a pra&ccedil;a S&atilde;o Pedro vazia em mar&ccedil;o de 2020 me arrepia at&eacute; hoje. Ali n&atilde;o havia pompa, n&atilde;o havia luxo, n&atilde;o havia estrelismo. Naquela b&ecirc;n&ccedil;&atilde;o, al&eacute;m de valorizar profissionais da sa&uacute;de e tantos outros trabalhadores do cuidado e do servi&ccedil;o, Francisco destacou a doen&ccedil;a do mundo, que n&atilde;o era somente o v&iacute;rus. Francisco chamava aten&ccedil;&atilde;o para o que mais importa: o ser humano. N&atilde;o tinha dinheiro que comprasse a cura, n&atilde;o tinha fortuna que dispensasse o cuidado, n&atilde;o tinha luxo que se sobrepusesse ao b&aacute;sico da vida. Em ora&ccedil;&atilde;o, em sil&ecirc;ncio, com as m&atilde;os de b&ecirc;n&ccedil;&atilde;os estendidas, o sil&ecirc;ncio gritou, o vazio nos preencheu. N&atilde;o somente de tristeza, mas de realidade. N&atilde;o somente de pedidos, mas de gratid&atilde;o pela vida. Ao nos dar a b&ecirc;n&ccedil;&atilde;o in&eacute;dita, Francisco recebeu a esperan&ccedil;a. Ao oferecer perd&atilde;o, voltou-se para si como humano.&nbsp;
E &eacute; essa mesma emo&ccedil;&atilde;o no olhar, a humanidade no agir e o consolo do abra&ccedil;ar que Francisco tamb&eacute;m se posicionava frente &agrave;s minorias sociais. N&atilde;o que fosse considerado um aliado das pautas, mas se pronunciou in&uacute;meras vezes pela paz, pelo fim do genoc&iacute;dio, pelo fim das guerras. Mais que isso, posicionava pela humanidade, pelo perd&atilde;o, pelo amor ao pr&oacute;ximo - n&atilde;o seria esse o principal fundamento que deve reger as pessoas crist&atilde;s?&nbsp;
Jorge Mario Bergoglio foi instrumento de paz. Entre povos e fam&iacute;lias, entre na&ccedil;&otilde;es e parentalidades, Francisco pregava o respeito de ser quem se &eacute;, de se escolher quem quisesse para amar. Como na ora&ccedil;&atilde;o, levou amor, perd&atilde;o, uni&atilde;o, f&eacute;. A ofensa n&atilde;o deixou de existir, a disc&oacute;rdia continua operante no mundo e a d&uacute;vida &eacute; o que rege os seres humanos. Mas Francisco era uma fagulha de esperan&ccedil;a no mundo do desespero, uma dose de alegria em um ambiente carregado de tristeza.&nbsp;
Francisco era luz. Essa mesma luz que ele foi seguir na madrugada desta segunda-feira. Essa mesma luz que afaga o cora&ccedil;&atilde;o do solit&aacute;rio, que orienta o caminho do desamparado, que estimula a f&eacute; do desesperan&ccedil;ado. Francisco viveu a ora&ccedil;&atilde;o, e aqui n&atilde;o falo de reza. Ele nos ensinou sobre amor ao pr&oacute;ximo, sobre respeito, humanidade e igualdade. Valores que muitas pessoas que se dizem crist&atilde;s s&atilde;o incapazes de exercitar, pois se incomodam de ver pessoas livres e em paz.&nbsp;
A mesma paz que Francisco representa(va). O tempo verbal n&atilde;o pode ser no passado. Porque se &eacute; morrendo que se vive para a vida eterna, a luz de Francisco continua acesa. Eternamente.&nbsp;
Marco T&uacute;lio C&acirc;mara &eacute; jornalista, escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Tamb&eacute;m &eacute; professor do curso de Jornalismo e do Programa de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o em Comunica&ccedil;&atilde;o e Sociedade da UFT. Doutor em Lingu&iacute;stica Aplicada pela Unicamp, &eacute; autor de &ldquo;Entrelinhas&rdquo; e dos livros &ldquo;Gest&atilde;o de Conte&uacute;do para M&iacute;dias Sociais&rdquo; e &ldquo;Planejamento Integrado de Comunica&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

Prever o resultado do pr&oacute;ximo ano &eacute; mais do que in&uacute;til. &Eacute; um erro de m&eacute;todo, de tempo e, muitas vezes, de interesse. A pol&iacute;tica brasileira j&aacute; desmentiu muitas certezas - e seguir&aacute; desmentindo.
A disputa est&aacute; aberta. Qualquer vatic&iacute;nio, neste momento, diz mais sobre o desejo de quem fala do que sobre o cen&aacute;rio real.&nbsp;O v&iacute;cio dos diagn&oacute;sticos apressados atinge todas as correntes ideol&oacute;gicas, mas faz mais estrago em quem governa. &Eacute; o que se v&ecirc; no campo progressista - especialmente nas previs&otilde;es otimistas sobre a reelei&ccedil;&atilde;o de Lula.
Tenho visto analistas e quadros governistas atuando como se o resultado estivesse encaminhado. Como se o desgaste atual fosse natural e se resolveria com a recupera&ccedil;&atilde;o da economia ou com o hist&oacute;rico de supera&ccedil;&atilde;o do lulismo.
&Eacute; um erro grave por dois motivos. Primeiro, o cen&aacute;rio pol&iacute;tico-social n&atilde;o autoriza qualquer conclus&atilde;o definitiva. Basta lembrar que a vit&oacute;ria de Lula em 2022 foi por uma das menores margens da hist&oacute;ria: 1,8 ponto percentual - enfrentando um presidente cercado de pol&ecirc;micas, infla&ccedil;&atilde;o dos combust&iacute;veis, perda de direitos e alta do emprego informal.
Nada indica que 2026 ser&aacute; mais f&aacute;cil.&nbsp;Segundo, o otimismo excessivo desmobiliza a autocr&iacute;tica e acomoda estrat&eacute;gias. Pol&iacute;tica n&atilde;o &eacute; torcida. &Eacute; disputa de narrativas, presen&ccedil;a social e sintonia com o tempo presente.&nbsp;Hoje, o governo enfrenta desgaste crescente, um eleitorado inquieto com o custo de vida, um ambiente urbano violento e uma sociedade cansada dos polos tradicionais.
Nesse espa&ccedil;o, surgem nomes como Ronaldo Caiado e Tarc&iacute;sio de Freitas. N&atilde;o por mobiliza&ccedil;&atilde;o ativa, mas pela combina&ccedil;&atilde;o entre o desgaste governista e a crise de representa&ccedil;&atilde;o.&nbsp;Tarc&iacute;sio &eacute; o nome mais estruturado da direita. Caiado, com trajet&oacute;ria s&oacute;lida e livre da rejei&ccedil;&atilde;o do bolsonarismo, aparece como alternativa vi&aacute;vel.
Ambos est&atilde;o em fase de ensaio. Podem crescer ou desaparecer. Mas s&atilde;o uma possibilidade real de aglutina&ccedil;&atilde;o das for&ccedil;as conservadoras.&nbsp;Do lado do governo, o lulismo permanece com for&ccedil;a - mas seus limites s&atilde;o vis&iacute;veis. Resiste mais pela mem&oacute;ria afetiva do que pela novidade pol&iacute;tica.
Sim, a economia pode melhorar at&eacute; 2026. Mas o cen&aacute;rio global preocupa. A possibilidade de recess&atilde;o mundial &mdash; impulsionada por pol&iacute;ticas tarif&aacute;rias mais agressivas dos EUA - j&aacute; est&aacute; no radar. E pode dificultar a vida de economias emergentes, como a brasileira.
Confiar cegamente na recupera&ccedil;&atilde;o econ&ocirc;mica seria mais um erro estrat&eacute;gico.&nbsp;O Brasil de 2026 est&aacute; aberto. Pode ser Lula. Pode ser Tarc&iacute;sio. Pode ser outro nome. O que n&atilde;o pode &eacute; o campo progressista acreditar que o tempo joga a seu favor.
O eleitor brasileiro vota com o bolso, com a percep&ccedil;&atilde;o da vida concreta, com o julgamento do agora.&nbsp;A &uacute;nica honestidade poss&iacute;vel &eacute; reconhecer os diversos cen&aacute;rios em que Lula pode vencer ou pode perder. A direita pode reaglutinar ou se fragmentar. E, assim, permitir estrat&eacute;gias poss&iacute;veis para os cen&aacute;rios. O que n&atilde;o pode &eacute; a an&aacute;lise pol&iacute;tica servir de consolo. A pol&iacute;tica real nunca foi territ&oacute;rio de conclus&otilde;es f&aacute;ceis. Quem age como se a vit&oacute;ria j&aacute; estivesse escrita no passado, corre o risco de trope&ccedil;ar no presente.
*Maur&iacute;cio Carvalho &eacute; publicit&aacute;rio e estrategista de marketing pol&iacute;tico.

Os primeiros 100 dias da gest&atilde;o Eduardo Siqueira Campos &agrave; frente da Prefeitura de Palmas revelam mais marketing do que solu&ccedil;&otilde;es reais. Muitas medidas adotadas possuem car&aacute;ter superficial, com mais visibilidade do que efic&aacute;cia.
A tarifa zero no transporte p&uacute;blico veio sem um plano sustent&aacute;vel, resultando em &ocirc;nibus lotados, atrasos constantes e desconforto para os usu&aacute;rios.&nbsp;Na infraestrutura, revitalizar pra&ccedil;as &eacute; positivo, mas ignora demandas urgentes de bairros perif&eacute;ricos, especialmente na regi&atilde;o sul, onde ruas seguem sem asfalto e ilumina&ccedil;&atilde;o adequada. Obras iniciadas na Avenida Teot&ocirc;nio Segurado, amplamente divulgadas, ainda n&atilde;o reduziram o tr&acirc;nsito ca&oacute;tico que afeta a rotina dos palmenses.
A promessa do Hospital Universit&aacute;rio soa repetitiva diante do cen&aacute;rio atual das unidades b&aacute;sicas, que sofrem com falta de profissionais e insumos b&aacute;sicos. Palmas precisa urgentemente de melhorias nas UPAs, atualmente saturadas e sem perspectivas imediatas de solu&ccedil;&atilde;o. Tamb&eacute;m n&atilde;o h&aacute; at&eacute; agora divulga&ccedil;&atilde;o sobre o esperado hospital municipal.
Outro ponto cr&iacute;tico &eacute; o caos instalado na educa&ccedil;&atilde;o municipal, com falta de vagas, escolas superlotadas e condi&ccedil;&otilde;es estruturais prec&aacute;rias, comprometendo seriamente a qualidade do ensino oferecido &agrave;s crian&ccedil;as palmenses.
Preocupa ainda o atraso recorrente no pagamento dos m&eacute;dicos, comprometendo o atendimento &agrave; popula&ccedil;&atilde;o e gerando inseguran&ccedil;a aos profissionais. Al&eacute;m disso, a nomea&ccedil;&atilde;o irregular de bolsistas na Funda&ccedil;&atilde;o Escola de Sa&uacute;de P&uacute;blica (FESP), burlando o concurso p&uacute;blico, viola princ&iacute;pios b&aacute;sicos da administra&ccedil;&atilde;o e prejudica a qualidade dos servi&ccedil;os.
Esses primeiros 100 dias mostram uma gest&atilde;o preocupada com apar&ecirc;ncias, distante das reais necessidades dos cidad&atilde;os. Continuarei fiscalizando e exigindo a&ccedil;&otilde;es concretas para que Palmas receba pol&iacute;ticas p&uacute;blicas efetivas, transparentes e duradouras.
*Vinicius Pires (Republicanos) &eacute; vereador de Palmas

Nesta quinta-feira (10), celebramos os 100 primeiros dias de um novo ciclo para nossa capital Palmas. Ao mesmo tempo em que marco meus primeiros meses de atua&ccedil;&atilde;o na C&acirc;mara Municipal de Palmas, fa&ccedil;o quest&atilde;o de destacar e parabenizar publicamente o trabalho desempenhado at&eacute; aqui pelo prefeito Eduardo Siqueira Campos.
Ap&oacute;s um per&iacute;odo de incertezas e estagna&ccedil;&atilde;o, a cidade voltou a sentir a presen&ccedil;a de uma lideran&ccedil;a comprometida, sens&iacute;vel &agrave;s necessidades da popula&ccedil;&atilde;o e determinada a transformar Palmas em um lugar melhor para todos. Eduardo assumiu com coragem e disposi&ccedil;&atilde;o, enfrentando desafios com seriedade, escutando a popula&ccedil;&atilde;o e promovendo mudan&ccedil;as significativas logo no in&iacute;cio de sua gest&atilde;o.
A atua&ccedil;&atilde;o do prefeito nesses primeiros 100 dias demonstra um olhar atento para o futuro, mas com os p&eacute;s firmes na realidade. J&aacute; foram retomados projetos importantes, realizados investimentos em infraestrutura &ndash; como estradas vicinais, pontes e pavimenta&ccedil;&atilde;o de vias essenciais &ndash; e lan&ccedil;adas a&ccedil;&otilde;es que refor&ccedil;am o compromisso com o desenvolvimento econ&ocirc;mico e social de nossa cidade.
Eduardo tem mostrado que &eacute; poss&iacute;vel fazer pol&iacute;tica com prop&oacute;sito, com foco em resultados e no bem-estar das pessoas. Ao propor a consolida&ccedil;&atilde;o de Palmas como polo log&iacute;stico e econ&ocirc;mico do pa&iacute;s, defendendo o fortalecimento da agricultura familiar, o apoio ao pequeno produtor e a valoriza&ccedil;&atilde;o da produ&ccedil;&atilde;o local, ele apresenta uma vis&atilde;o de cidade sustent&aacute;vel, moderna e inclusiva.
O an&uacute;ncio da moderniza&ccedil;&atilde;o do transporte p&uacute;blico, com a renova&ccedil;&atilde;o total da frota, e a prepara&ccedil;&atilde;o para a maior participa&ccedil;&atilde;o da hist&oacute;ria de Palmas na Agrotins 2025, revelam uma gest&atilde;o que pensa grande, sem perder o foco na qualidade dos servi&ccedil;os b&aacute;sicos, como sa&uacute;de e assist&ecirc;ncia social.
Palmas tamb&eacute;m voltou a ganhar visibilidade no cen&aacute;rio nacional. A articula&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica j&aacute; garantiu a conquista de R$ 150 milh&otilde;es em recursos federais que ser&atilde;o transformados em benef&iacute;cios concretos para nossa popula&ccedil;&atilde;o.
Como vereador, me sinto motivado e orgulhoso por participar deste novo momento. &Eacute; gratificante poder olhar nos olhos das pessoas e dizer: agora vai! Com uni&atilde;o, responsabilidade e amor por nossa cidade, Palmas vai voltar a ser uma capital refer&ecirc;ncia para o Brasil.
Ainda h&aacute; muito a ser feito, mas os primeiros passos j&aacute; mostram que estamos na dire&ccedil;&atilde;o certa. Reafirmo meu compromisso com os cidad&atilde;os palmenses e minha confian&ccedil;a na gest&atilde;o de Eduardo Siqueira Campos. A esperan&ccedil;a voltou a habitar nossa cidade &mdash; e isso n&atilde;o tem pre&ccedil;o.
*Carlos Amastha (PSB) &eacute; vereador e ex-prefeito de Palmas

Na segunda-feira, 31 de mar&ccedil;o de 2025, estreou o remake de Vale Tudo, adaptada por Manuela Dias, na TV Globo, e com ela, mais uma vez, ressurge o questionamento: "O que voc&ecirc; faz quando ningu&eacute;m est&aacute; olhando?" Essa pergunta, que ecoa desde a exibi&ccedil;&atilde;o original da novela em 1988, escrita por Gilberto Braga com o apoio de Leonor Bass&egrave;res e Aguinaldo Silva, continua t&atilde;o atual quanto antes. O dilema moral da honestidade ainda pulsa forte na sociedade, mas ser&aacute; que as respostas mudaram?
A trama cl&aacute;ssica, que marcou a teledramaturgia brasileira, gira em torno do embate entre Raquel e sua filha Maria de F&aacute;tima. A primeira, trabalhadora e &eacute;tica, v&ecirc; seu mundo desmoronar diante da ambi&ccedil;&atilde;o desmedida da filha, que acredita que levar vantagem &eacute; a &uacute;nica maneira de vencer na vida. As ic&ocirc;nicas cenas, na qual Marco Aur&eacute;lio foge do pa&iacute;s ap&oacute;s uma s&eacute;rie de falcatruas e faz um gesto com os bra&ccedil;os (sinal de banana) para o Brasil e a morte da vil&atilde; Odete Roitman, a pergunta que popularizou &ldquo;Quem matou Odete Roitman?&rdquo;, a novela ainda provoca reflex&otilde;es inquietantes.
Em 2019, um estudo publicado na revista Science, conduzido por pesquisadores das Universidades de Michigan, Utah e Zurique, analisou a honestidade c&iacute;vica em 40 pa&iacute;ses ao distribuir 17 mil carteiras em 355 cidades, contendo diferentes quantias e informa&ccedil;&otilde;es de contato. A Su&iacute;&ccedil;a foi considerada o pa&iacute;s mais honesto, com taxas de devolu&ccedil;&atilde;o de 70% para carteiras sem dinheiro e 80% para as com dinheiro, seguida por Noruega, Holanda, Dinamarca e Su&eacute;cia. A Alemanha ficou em 9&ordm; lugar e a Fran&ccedil;a, em 10&ordm;. O Brasil ocupou a 26&ordf; posi&ccedil;&atilde;o, com taxas de 35% e 50%, respectivamente, figurando no terceiro grupo ao lado de It&aacute;lia, Gr&eacute;cia e &Aacute;frica do Sul. A China teve o pior desempenho, com devolu&ccedil;&otilde;es entre 0,9% e 20%.
<img src="https://gestor-manchetedotocantins.nvgo.app/assets/7d4ac41d-9970-4577-ab2f-8a1619a915e6.png?width=850&amp;height=500" alt="Foto: Reprodu&ccedil;&atilde;o | IA">
O Brasil est&aacute; no grupo dos pa&iacute;ses mais desonestos do mundo, um dado alarmante que reflete desafios culturais e sociais relacionados &agrave; &eacute;tica e &agrave; cidadania. A 26&ordf; coloca&ccedil;&atilde;o no ranking, com apenas 35% de devolu&ccedil;&atilde;o de carteiras sem dinheiro e 50% daquelas com dinheiro, evidencia um cen&aacute;rio preocupante em compara&ccedil;&atilde;o com na&ccedil;&otilde;es mais honestas, como Su&iacute;&ccedil;a e Noruega. Esse resultado sugere a necessidade de investimentos em educa&ccedil;&atilde;o, conscientiza&ccedil;&atilde;o e fortalecimento de valores &eacute;ticos para promover uma sociedade mais &iacute;ntegra e confi&aacute;vel.
A no&ccedil;&atilde;o do Bem atravessa o pensamento de S&oacute;crates e Plat&atilde;o, mas com abordagens distintas. S&oacute;crates, como retratado nos di&aacute;logos plat&ocirc;nicos, defendia que a virtude era conhecimento e que ningu&eacute;m faria o mal deliberadamente se compreendesse o verdadeiro Bem (M&ecirc;non, 77b-78b). Plat&atilde;o, por sua vez, amplia essa concep&ccedil;&atilde;o ao apresentar a Ideia do Bem como a realidade suprema, comparando-a ao Sol, que ilumina o conhecimento e a justi&ccedil;a (A Rep&uacute;blica, 505a-509b). Enquanto S&oacute;crates enfatiza a rela&ccedil;&atilde;o entre &eacute;tica e saber, Plat&atilde;o desenvolve uma vis&atilde;o metaf&iacute;sica e pol&iacute;tica em que o Bem &eacute; o princ&iacute;pio fundamental da ordem e da verdade. Para o dogma religioso, n&atilde;o se pode amar apenas o homem de bem e odiar o inimigo, Jesus ensina amar o pr&oacute;ximo como a ti mesmo (Jo 13,34).
O que motiva algu&eacute;m a ser honesto? Ser&aacute; a f&eacute; religiosa, a necessidade de dormir com a consci&ecirc;ncia tranquila, ou uma convic&ccedil;&atilde;o inabal&aacute;vel de que os princ&iacute;pios morais devem prevalecer? Em um pa&iacute;s onde tantas vezes a esperteza &eacute; valorizada e a corrup&ccedil;&atilde;o se infiltra em diversas esferas, ser honesto parece, por vezes, um ato de resist&ecirc;ncia.
A honestidade pode at&eacute; ser ensinada nos lares, nas escolas e nos templos, mas &eacute; na pr&aacute;tica cotidiana que ela se firma &ndash; ou se dissolve. Devolver um troco errado, n&atilde;o furar uma fila, n&atilde;o se beneficiar de uma brecha legal, devolver a carteira encontrada, tudo isso s&atilde;o pequenos testes di&aacute;rios. O que fazemos quando ningu&eacute;m est&aacute; olhando define n&atilde;o apenas nosso car&aacute;ter, mas tamb&eacute;m a sociedade que ajudamos a construir.
Diante da nova vers&atilde;o de Vale Tudo, cabe perguntar: os brasileiros s&atilde;o desonestos? Ainda nos indignamos com situa&ccedil;&otilde;es desonestas, seja roubo ou omiss&atilde;o ou j&aacute; nos tornamos indiferentes? A honestidade ainda vale tudo? A novela est&aacute; de volta, mas as respostas seguem em aberto, convidando-nos a uma profunda reflex&atilde;o sobre a b&uacute;ssola moral que guia nossas vidas.
Julienne Silveira &eacute; mestra em Letras pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e graduada na mesma &aacute;rea pela UFT. Ela escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Atualmente, coordena a Escola de Extens&atilde;o vinculada &agrave; Pr&oacute;-Reitoria de Extens&atilde;o, Cultura e Assuntos Comunit&aacute;rios (Proex) da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins).

Essa noite eu sonhei que voltava pra minha cidade natal. N&atilde;o em uma viagem normal, como a feita em abril do ano passado para o casamento da melhor amiga, cheia de nostalgia, lembran&ccedil;as, aconchego e amor. Era como se eu fosse apenas depositado ali, na vers&atilde;o atual, conflitando com quem aquele interior mineiro me forjou.&nbsp;
Em uma mistura de cidades, com o frenesi da capital e a proximidade de cidade pequena, fui a bares e eventos culturais que agitavam a noite de sexta em uma programa&ccedil;&atilde;o completamente inventada (ahh a liberdade po&eacute;tica dos sonhos!). De l&aacute;, como bom inimigo do fim que sou, segui para uma poss&iacute;vel roda de samba em uma pra&ccedil;a cheia de mem&oacute;rias &ndash; pr&oacute;prias e constru&iacute;das a partir de relatos, onde corri minha primeira inf&acirc;ncia e vivi as descobertas da adolesc&ecirc;ncia, como o primeiro gole em bebida alco&oacute;lica, o truco matando aula e o beijo atr&aacute;s da banca de jornal.&nbsp;
Mas, dessa vez, fui adulto. Este que sou hoje, cheio de coragem e medo, confian&ccedil;a e l&aacute;grimas, luz e sombra_ n&atilde;o ser&iacute;amos todos assim? Chegando l&aacute;, n&atilde;o havia samba, mas forr&oacute;. Sorri ao vislumbrar casais idosos e LGBTs vivendo a liberdade e o chamego que o som da zabumba e do tri&acirc;ngulo proporciona. Mas, dando uma volta, me deparei com aquilo que tentava fugir.&nbsp;
Do outro lado da pra&ccedil;a, avisto meus algozes. Eu, descal&ccedil;o, sentindo nos p&eacute;s a poeira que s&oacute; uma cidade sider&uacute;rgica pode proporcionar, me inundei de temores e avistava a sujeira que bucha vegetal nenhuma &eacute; capaz de tirar. Passeava receoso e tentando n&atilde;o ser visto, como quando vimos aquela pessoa indesejada na rua e mudamos de lado da cal&ccedil;ada, para que aquelas ofensas e viol&ecirc;ncias simb&oacute;licas de outrora n&atilde;o tomassem forma.&nbsp;
Mas o que eu n&atilde;o entendia era que aquele que ali andava sem medo de sujar os p&eacute;s n&atilde;o era mais o adolescente que n&atilde;o sa&iacute;ra da cidade do interior. Era o adulto que perdeu as contas de quantas casas morou, quantas cidades chamou de lar e quantos amores se prometeu vivenciar. Ali estava o &ldquo;homem de a&ccedil;o&rdquo;, n&atilde;o pelo trocadilho infame com o nome da regi&atilde;o que nascera nem pela brutalidade de sentimentos, mas pela for&ccedil;a que nem sabia que existia.&nbsp;
E assim, aquele adulto encarou um a um e n&atilde;o falo aqui de briga adolescente. Mas se colocou de frente com o que o ajudou a chegar at&eacute; aqui. Encarou quem o fez mal e riu aliviado por n&atilde;o se tornar um deles. Respirou orgulhoso de ter tra&ccedil;ado um caminho que era s&oacute; seu, permitindo-se sujar os p&eacute;s, as m&atilde;os, a cabe&ccedil;a, mas com ela sempre erguida. Olhou pra tr&aacute;s e viu que todo aquele cen&aacute;rio n&atilde;o lhe pertencia mais, mas tamb&eacute;m era todo dele: a banca de jornal, a mesa de xadrez, a padaria preferida, o bar mais famoso do bairro e o churrasquinho mais gostoso da cidade. Se o cantor preferido entoa para sorrirmos de volta para a sorte, o adulto abra&ccedil;ou o adolescente que ali enxergou. E acolheu cada um desses sentimentos que lhe s&atilde;o t&atilde;o caros at&eacute; hoje: a coragem, a afli&ccedil;&atilde;o, o orgulho, o medo. A coragem de ser quem se &eacute;. E continuar sendo.&nbsp;
Marco T&uacute;lio C&acirc;mara &eacute; jornalista, escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Tamb&eacute;m &eacute; professor do curso de Jornalismo e do Programa de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o em Comunica&ccedil;&atilde;o e Sociedade da UFT. Doutor em Lingu&iacute;stica Aplicada pela Unicamp, &eacute; autor de &ldquo;Entrelinhas&rdquo; e dos livros &ldquo;Gest&atilde;o de Conte&uacute;do para M&iacute;dias Sociais&rdquo; e &ldquo;Planejamento Integrado de Comunica&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, relator dos atos antidemocr&aacute;ticos do 8 de janeiro, determinou uma pena de 14 anos a cabeleireira D&eacute;bora Rodrigues, que ficou conhecida por escrever na est&aacute;tua da Justi&ccedil;a, em frente &agrave; Suprema Corte, a frase "perdeu, man&eacute;", dita anteriormente pelo ministro Lu&iacute;s Roberto Barroso.
Ao ser questionado por um bolsonarista inconveniente, enquanto &nbsp;caminhava em Nova Iorque, no final de 2022, sobre as urnas eletr&ocirc;nicas, Barroso &nbsp;respondeu de pronto: "Perdeu, man&eacute;, n&atilde;o amole". No dia 8 de janeiro de 2023, &ldquo;armada&rdquo; com um batom vermelho, D&eacute;bora imprimiu sua marca nos atos antidemocr&aacute;ticos ao pichar a est&aacute;tua da Justi&ccedil;a com a frase proferida por Barroso.
Pelo ato, ela est&aacute; sendo julgada por crimes, como associa&ccedil;&atilde;o criminosa armada (armada com batom), aboli&ccedil;&atilde;o violenta do Estado Democr&aacute;tico de Direito, golpe de Estado, &nbsp;dano qualificado com emprego de viol&ecirc;ncia com uso de explosivos e inflam&aacute;veis (um batom!) e deteriora&ccedil;&atilde;o do patrim&ocirc;nio p&uacute;blico da Uni&atilde;o.
D&eacute;bora est&aacute; sendo enquadrada por crimes que outras pessoas cometeram, n&atilde;o ela. Outras pessoas empregaram o uso da viol&ecirc;ncia, n&atilde;o ela. O caso de D&eacute;bora esfrega em nossos rostos que a lei &eacute; constantemente rasgada. Por lei, D&eacute;bora n&atilde;o podia estar presa. N&atilde;o em regime fechado. E ela est&aacute; presa desde 2023.
Segundo o Marco Legal da Primeira Inf&acirc;ncia, mulheres com filhos menores de 12 anos devem cumprir pena domiciliar. Esse &eacute; o caso de D&eacute;bora. Dados recentes mostram que &nbsp;80% das mulheres encarceradas n&atilde;o deveriam estar, porque t&ecirc;m filhos menores de 12 anos.
D&eacute;bora tem um filho de 10 anos e outro de 7. Ela pode cumprir e deveria cumprir, por lei, a pena em regime domiciliar. Mas o ministro Alexandre de Moraes n&atilde;o &eacute; questionado, por setores da sociedade e pela imprensa &ndash; eu vou me ater aqui &agrave; minha &aacute;rea. A imprensa est&aacute; silente diante de Moraes, que comete excessos nesse caso. D&eacute;bora errou, sim, mas 14 anos de pris&atilde;o, por estar armada com um batom?!
C&iacute;ntia Kelly &eacute; jornalista

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, alcan&ccedil;ou uma significativa conquista ao ser premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Essa vit&oacute;ria transcende a esfera cinematogr&aacute;fica, ganhando uma relev&acirc;ncia cultural e pol&iacute;tica que ressoa profundamente no contexto atual da democracia brasileira a cada fal&aacute;cia sobre o pedido de anistia. A obra, ao abordar a mem&oacute;ria da ditadura militar e seus impactos sobre a sociedade contempor&acirc;nea, oferece um ponto de reflex&atilde;o sobre a justi&ccedil;a, o passado recente e os desafios do Brasil em fortalecer suas institui&ccedil;&otilde;es democr&aacute;ticas.
Ambientada durante o per&iacute;odo da repress&atilde;o militar, a narrativa de Ainda Estou Aqui segue a trajet&oacute;ria de uma fam&iacute;lia brasileira, trazendo &agrave; tona as brutalidades de um regime que silenciava dissid&ecirc;ncias e perseguia aqueles que ousavam question&aacute;-lo. A trama, sens&iacute;vel e visceral, exp&otilde;e as feridas deixadas pela tortura, pelo ex&iacute;lio e pela censura, for&ccedil;ando o espectador a confrontar um passado doloroso que ainda reverbera no presente.
<img src="https://gestor-manchetedotocantins.nvgo.app/assets/15db5bea-4125-46b9-b872-644879e02e27.png?width=850&amp;height=500" alt="Ainda Estou Aqui | Foto: Alile Dara Onawale">
A consagra&ccedil;&atilde;o do filme no Oscar, um dos maiores palcos de reconhecimento art&iacute;stico mundial, eleva Ainda Estou Aqui a um patamar de import&acirc;ncia hist&oacute;rica. A premia&ccedil;&atilde;o n&atilde;o s&oacute; reconhece a qualidade art&iacute;stica da obra, mas tamb&eacute;m a torna um s&iacute;mbolo da resist&ecirc;ncia cultural brasileira. Em um pa&iacute;s em que os ecos da ditadura militar ainda s&atilde;o parte do debate pol&iacute;tico, o filme se torna um grito contra o esquecimento, reiterando a necessidade de lembrar e honrar as v&iacute;timas do regime autorit&aacute;rio.
Esse reconhecimento chega em um momento cr&iacute;tico para o Brasil, em que a democracia, ainda jovem e vulner&aacute;vel, enfrenta s&eacute;rios desafios. O avan&ccedil;o de discursos autorit&aacute;rios e a crescente polariza&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica reacendem discuss&otilde;es sobre os legados da ditadura e a necessidade de garantir a sa&uacute;de das institui&ccedil;&otilde;es democr&aacute;ticas. Ainda Estou Aqui surge, assim, como uma reflex&atilde;o necess&aacute;ria sobre o risco da perda de conquistas democr&aacute;ticas, mostrando que a liberdade e os direitos civis s&atilde;o frutos de uma luta constante, e que a democracia precisa ser defendida a todo momento.
A obra tamb&eacute;m serve como um alerta sobre os perigos do autoritarismo e da intoler&acirc;ncia. Ao retratar com realismo as pr&aacute;ticas de censura, tortura e repress&atilde;o, o filme nos lembra de que a vigil&acirc;ncia permanente &eacute; essencial para a manuten&ccedil;&atilde;o da democracia e para a preserva&ccedil;&atilde;o dos direitos humanos. Ao fazer isso, Ainda Estou Aqui se posiciona como um instrumento educativo e de conscientiza&ccedil;&atilde;o, essencial para o entendimento de um passado que ainda molda a pol&iacute;tica e a sociedade brasileira.
O Oscar conquistado pela obra, portanto, vai al&eacute;m da consagra&ccedil;&atilde;o art&iacute;stica. Ele afirma o valor pol&iacute;tico e social do filme, destacando sua capacidade de incitar di&aacute;logo e reflex&atilde;o sobre a mem&oacute;ria hist&oacute;rica e as condi&ccedil;&otilde;es atuais do Brasil. Agora, com um alcance global, Ainda Estou Aqui se torna uma esp&eacute;cie de embaixador da hist&oacute;ria brasileira, convidando o mundo a conhecer os desafios e as vit&oacute;rias do povo brasileiro.
Em &uacute;ltima an&aacute;lise, Ainda Estou Aqui &eacute; um filme que incomoda, provoca e exige reflex&atilde;o. Ele desafia o p&uacute;blico a reconhecer suas pr&oacute;prias fragilidades e, mais importante, a se engajar na constru&ccedil;&atilde;o de um futuro em que a democracia seja plena e a justi&ccedil;a seja verdadeiramente acess&iacute;vel a todos. A premia&ccedil;&atilde;o no Oscar n&atilde;o s&oacute; refor&ccedil;a a import&acirc;ncia da obra, mas tamb&eacute;m destaca que a luta pela democracia continua a ser um legado coletivo, que nos une e nos impulsiona a seguir em frente.
Julienne Silveira &eacute; mestra em Letras pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e graduada na mesma &aacute;rea pela UFT. Ela escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Atualmente, coordena a Escola de Extens&atilde;o vinculada &agrave; Pr&oacute;-Reitoria de Extens&atilde;o, Cultura e Assuntos Comunit&aacute;rios (Proex) da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins).

Na noite desta segunda-feira (17), a UFT entregou &agrave; sociedade novas/os jornalistas e arquitetas/os e urbanistas. Em uma cerim&ocirc;nia emocionante e necess&aacute;ria, em homenagem, tamb&eacute;m, ao arquiteto Walfredo Antunes, que faleceu no &uacute;ltimo dia 14, as/os novas/os profissionais lembraram os pilares &eacute;ticos de cada profiss&atilde;o e a forma&ccedil;&atilde;o humana que a Universidade oferece. Mas, trago aqui, uma reflex&atilde;o em espec&iacute;fico, sobre o of&iacute;cio que escolhi desde sempre e que me rege em cada atitude profissional: a responsabilidade social do jornalismo.&nbsp;
O nome mais comum (e guarda-chuva) do curso de gradua&ccedil;&atilde;o que envolve o Jornalismo &eacute; Comunica&ccedil;&atilde;o Social. Gosto dessa nomenclatura, porque ela revela aquilo que &eacute; fundamental no campo jornal&iacute;stico. O cerne &eacute; a comunica&ccedil;&atilde;o. O papel de informar &eacute;, na verdade, comunicar &agrave; sociedade os fatos, acontecimentos, causas, efeitos e impactos. Comunicar &eacute; mais do que falar ou escrever, &eacute; expor tudo o que est&aacute; envolvido naquilo sobre o qual se reporta &ndash; e n&atilde;o se trata somente de &ldquo;ouvir os dois lados&rdquo;, mas todos os poss&iacute;veis envolvimentos. Comunicar &eacute; fazer com que as vozes que n&atilde;o tem espa&ccedil;o sejam ouvidas e que essa mensagem chegue a um n&uacute;mero m&aacute;ximo de pessoas. Comunicar n&atilde;o &eacute; dom, mas sim treino, pr&aacute;tica, t&eacute;cnica, of&iacute;cio.
E a&iacute; vem a palavra que eu mais gosto, mas que tem se perdido: Social. O jornalismo &eacute;, na sua ess&ecirc;ncia, social. Ele nasceu para questionar, duvidar, fiscalizar, indagar, incomodar. Fazer jornalismo &eacute; estar &ldquo;atento e forte&rdquo;, &eacute; primar pelo lado social, &eacute; buscar meios para promover a equidade, &eacute; abrir espa&ccedil;os para demandas sens&iacute;veis, &eacute; ouvir e chamar para o debate pessoas vulnerabilizadas, popula&ccedil;&otilde;es minorizadas. N&atilde;o sou s&oacute; eu que digo isso, mas os principais estudiosos e te&oacute;ricos do Jornalismo. E da Comunica&ccedil;&atilde;o Social.&nbsp;
Tudo isso veio &agrave; tona nesta noite festiva. Em um discurso forte, de cobran&ccedil;as por melhorias e apontamentos de fragilidades, a oradora do curso de Jornalismo mostrou, ao vivo, o porqu&ecirc; do nome completo do curso. As falhas do microfone e algumas cadeiras quebradas no audit&oacute;rio vieram coroar tudo o que se discursava e mostrava. E quem denunciava era uma jornalista. Como deve ser.&nbsp;
Em tempos de intelig&ecirc;ncia artificial com textos superficiais, desinforma&ccedil;&atilde;o criminosa e descredibiliza&ccedil;&atilde;o do of&iacute;cio (mas isso &eacute; papo pra outro artigo), &eacute; importante seguir atento e forte. &Eacute; importante seguir. Ou, parafraseando a oradora: &ldquo;segui(r)mos&rdquo;!
Marco T&uacute;lio C&acirc;mara &eacute; jornalista, escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Tamb&eacute;m &eacute; professor do curso de Jornalismo e do Programa de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o em Comunica&ccedil;&atilde;o e Sociedade da UFT. Doutor em Lingu&iacute;stica Aplicada pela Unicamp, &eacute; autor de &ldquo;Entrelinhas&rdquo; e dos livros &ldquo;Gest&atilde;o de Conte&uacute;do para M&iacute;dias Sociais&rdquo; e &ldquo;Planejamento Integrado de Comunica&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

Enquanto rolo o feed no Instagram, brilhos, cores, glitter e aquela alegria que s&oacute; fevereiro brasileiro proporciona. S&atilde;o bloquinhos, esquentas, shows e muita festa espalhada em Salvador, Recife, S&atilde;o Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Florian&oacute;polis, Bel&eacute;m, S&atilde;o Lu&iacute;s... O maior show da terra, como tamb&eacute;m &eacute; conhecido, tem seus adeptos espalhados em todo o Brasil, com todas as idades e sorrisos, mas s&oacute; falta Palmas perceber isso.&nbsp;
Mais do que folga, al&iacute;vio ou festa, Carnaval &eacute; cultura e tradi&ccedil;&atilde;o. As recentes pol&ecirc;micas envolvendo as letras dos sambas das escolas de samba do carnaval do Rio de Janeiro e de outras m&uacute;sicas consagradas no ax&eacute; escancaram o que, outrora, era velado: o racismo religioso. &Eacute; importante frisar o que &eacute;, chamar pelo nome. Ignorar a influ&ecirc;ncia da cultura afro &eacute; ignorar nossas pr&oacute;prias ra&iacute;zes, nossa pr&oacute;pria identidade. Achar que esse (pouco) espa&ccedil;o que lhe &eacute; dado deve ser ainda mais reduzido &eacute; manter a estrutura de opress&atilde;o a qual procura se libertar.&nbsp;
Cec&iacute;lia Meirelles tinha uma linda defini&ccedil;&atilde;o de liberdade: &ldquo;que o sonho humano alimenta, n&atilde;o h&aacute; ningu&eacute;m que explique e ningu&eacute;m que n&atilde;o entenda&rdquo;. Mas &eacute; dif&iacute;cil alimentar esse sonho em um local que poda nossas manifesta&ccedil;&otilde;es. &Eacute; dif&iacute;cil alimentar esse sonho em uma cidade que parece ignorar express&otilde;es culturais. &Eacute; dif&iacute;cil alimentar esse sonho quando meia d&uacute;zia de pol&iacute;ticos prioriza o bolso do agro e finge entregar o que a popula&ccedil;&atilde;o quer. Quando Tit&atilde;s canta que &ldquo;a gente quer comida, divers&atilde;o e arte&rdquo;, n&atilde;o &eacute; da pol&iacute;tica de p&atilde;o e circo, mas sim de recuperar nossas ra&iacute;zes e valorizar nossa cultura.&nbsp;&nbsp;
Enquanto vivo em uma cidade que fecha os olhos para a cultura brasileira, que mistura religi&atilde;o com pol&iacute;tica e festa e que ignora a arte em sua pluralidade, sigo como Chico, me guardando para uma data t&atilde;o estimada, um per&iacute;odo t&atilde;o gostoso, que tem se tornado cada vez mais raro pros lados de c&aacute;. A purpurina est&aacute; guardada, as roupas coloridas no arm&aacute;rio e a anima&ccedil;&atilde;o aqui dentro. Tudo pronto para explodir, tudo pronto para viver, sem ter que explicar nada, mas a ponto de todo mundo entender. Carnaval &eacute; cultura, &eacute; alegria, &eacute; esperan&ccedil;a, &eacute; liberdade. N&atilde;o &eacute; tudo isso que nosso sonho alimenta? Marco T&uacute;lio C&acirc;mara &eacute; jornalista, escreve quinzenalmente neste espa&ccedil;o. Tamb&eacute;m &eacute; professor do curso de Jornalismo e do Programa de P&oacute;s-Gradua&ccedil;&atilde;o em Comunica&ccedil;&atilde;o e Sociedade da UFT.&nbsp;Doutor em Lingu&iacute;stica Aplicada pela Unicamp, &eacute; autor de &ldquo;Entrelinhas&rdquo; e dos livros &ldquo;Gest&atilde;o de Conte&uacute;do para M&iacute;dias Sociais&rdquo; e &ldquo;Planejamento Integrado de Comunica&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

A sa&uacute;de mental das crian&ccedil;as nunca esteve t&atilde;o fragilizada como est&aacute; agora!&nbsp;
Neste janeiro branco, m&ecirc;s dedicado &agrave; conscientiza&ccedil;&atilde;o da sa&uacute;de mental e emocional, esta afirmativa nos convida a refletir sobre a situa&ccedil;&atilde;o desse p&uacute;blico t&atilde;o singular que, cada vez mais cedo, est&aacute; experimentando as dores do adoecimento ps&iacute;quico. Nesse sentido, o psiquiatra e psicanalista brasileiro Joel Birman, em seu texto A juventude na atualidade, diz que as crian&ccedil;as e os adolescentes est&atilde;o vivenciando um estado de desamparo sem precedentes e est&atilde;o cada vez mais vulner&aacute;veis a traumas variados.
Nesse cen&aacute;rio, a leitura de literatura pode contribuir e muito para promover a sa&uacute;de mental dos pequenos. A renomada antrop&oacute;loga francesa, Michele P&egrave;tit, que dedicou grande parte de sua carreira a trabalhar com crian&ccedil;as refugiadas e em contextos de guerra, enfatiza o poder transformador da leitura. Em suas experi&ecirc;ncias, ela testemunhou in&uacute;meras vezes como a simples leitura de textos, trechos ou mesmo de fragmentos pode resgatar crian&ccedil;as e adolescentes da pris&atilde;o de cenas traum&aacute;ticas. Para P&egrave;tit, essas leituras s&atilde;o uma ferramenta poderosa para que os jovens possam ressignificar suas experi&ecirc;ncias, dando nome a ang&uacute;stias e dores que amea&ccedil;am sua sa&uacute;de ps&iacute;quica.&nbsp;
Outro estudioso dedicado &agrave; educa&ccedil;&atilde;o e &agrave; sa&uacute;de das crian&ccedil;as, o psicanalista Bruno Bettelheim, acrescenta que a literatura infantil &eacute; um dos melhores recursos dispon&iacute;veis para ajudar as crian&ccedil;as a atribuir significado &agrave;s suas viv&ecirc;ncias e encontrar prop&oacute;sito na vida. Essas vis&otilde;es destacam a import&acirc;ncia da leitura como um instrumento essencial para o desenvolvimento emocional e psicol&oacute;gico dos jovens, at&eacute; mesmo em contextos adversos.
A pr&aacute;tica da leitura de literatura infantil pode come&ccedil;ar ainda na gesta&ccedil;&atilde;o, quando os pais leem para o beb&ecirc; que est&aacute; na barriga. &Agrave; medida que a crian&ccedil;a cresce, essa atividade pode continuar de forma prazerosa e educativa. Enquanto o adulto se guia pelos textos, o pequeno pode acompanhar pelas imagens, o que promove uma intera&ccedil;&atilde;o rica e estimulante. N&atilde;o &eacute; necess&aacute;rio que os pais se preocupem em ser fi&eacute;is &agrave; hist&oacute;ria; a imagina&ccedil;&atilde;o pode fluir livremente, tanto a dos adultos quanto a das crian&ccedil;as.&nbsp;
&Eacute; fundamental que a leitura n&atilde;o seja imposta como uma obriga&ccedil;&atilde;o, mas que a crian&ccedil;a tenha a liberdade de se expressar, mesmo antes de adquirir flu&ecirc;ncia na linguagem. Os pais podem ainda dar vida &agrave;s hist&oacute;rias com encena&ccedil;&otilde;es e dramatiza&ccedil;&otilde;es, tornando o momento mais l&uacute;dico e envolvente. E se a crian&ccedil;a pedir para repetir a mesma hist&oacute;ria v&aacute;rias vezes, isso deve ser encarado positivamente, pois indica uma conex&atilde;o significativa e um impacto emocional profundo para ela.
Para quem deseja iniciar ou enriquecer a leitura de literatura infantil em casa, diversas sugest&otilde;es podem ser exploradas, abrangendo cl&aacute;ssicos internacionais e brasileiros, de autores de diferentes &eacute;pocas e estilos. Entre os recomendados est&atilde;o nomes consagrados como Charles Perrault, Irm&atilde;os Grimm e Hans Cristian Andersen, cujas hist&oacute;rias encantam gera&ccedil;&otilde;es. Representando a rica produ&ccedil;&atilde;o nacional, destacam-se Monteiro Lobato, Lygia Bojunga, Jos&eacute; Mauro de Vasconcelos, Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Pedro Bandeira, dentre outros, que oferecem narrativas envolventes e significativas.&nbsp;
Autores contempor&acirc;neos como Ilan Brenman, Ot&aacute;vio J&uacute;nior, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara e Francisco Neto Pereira Pinto tamb&eacute;m merecem aten&ccedil;&atilde;o, proporcionando uma vasta gama de obras que dialogam com a atualidade e com a diversidade cultural. Muitos desses t&iacute;tulos est&atilde;o dispon&iacute;veis na Amazon, facilitando o acesso a essa valiosa fonte de conhecimento e entretenimento para crian&ccedil;as e adultos, que &eacute; a literatura infantil.&nbsp;
Boa sa&uacute;de mental para todos!
*Francisco Neto Pereira Pinto &eacute; professor universit&aacute;rio, psicanalista e escritor. Autor dos livros &lsquo;&Agrave; beira do Araguaia&rsquo;; &lsquo;Saudades do meu gato Dom&rsquo;, &lsquo;O Gato Dom&rsquo; e &lsquo;Voc&ecirc; vai ganhar um irm&atilde;ozinho&rsquo;, todos dispon&iacute;veis na Amazon.&nbsp;

N&atilde;o queremos apenas a vida vivida, queremos experi&ecirc;ncias!&nbsp;
Hoje &eacute; bastante comum em postagens nas redes sociais, como por exemplo no Instagram, encontrarmos a express&atilde;o colecionando experi&ecirc;ncias, geralmente empregada como legenda para um &aacute;lbum fotogr&aacute;fico em que cenas tidas como marcantes para aquela pessoa s&atilde;o registradas. A ideia &eacute; sublinhar que os momentos vividos se destacam do comum do dia a dia - foram especiais, dignos de um cap&iacute;tulo especial na hist&oacute;ria do autor da postagem. Mas, o que significa viver uma experi&ecirc;ncia?
A diferen&ccedil;a entre o vivido do dia a dia e uma experi&ecirc;ncia pode ser visualizada por meio de uma est&oacute;ria muito interessante chamada Uma ideia toda azul, de Marina Colasanti. Esse conto narra a hist&oacute;ria de um rei que teve uma ideia maravilhosa e completamente azul, algo t&atilde;o magn&iacute;fico que poderia transformar o reino. No entanto, o rei estava constantemente ocupado com os afazeres do reino e, por isso, nunca encontrava tempo para se dedicar a essa ideia especial. Ele se ocupava com reuni&otilde;es, conselhos e tarefas administrativas, sempre adiando o momento de explorar sua ideia azul. Com o passar do tempo, a ideia permaneceu intocada e n&atilde;o realizou seu potencial transformador.&nbsp;
O rei n&atilde;o sentia real prazer com essas tarefas &ndash; eram apenas afazeres, nada realmente significativo que outra pessoa n&atilde;o pudesse fazer. No nosso dia a dia qualquer viv&ecirc;ncia pode se transformar em uma experi&ecirc;ncia, basta que ela tenha pot&ecirc;ncia suficiente para nos fazer querer falar dela, se ocupar com um real interesse. Para o fil&oacute;sofo Walter Benjamim, a experi&ecirc;ncia est&aacute; ligada &agrave; a&ccedil;&atilde;o de transmitir algo a algu&eacute;m por meio de uma narrativa. Isso acontece, por exemplo, quando um pai deseja transmitir alguma sabedoria a seu filho, contando-lhe uma est&oacute;ria, que pode ser sua ou de seus ancestrais.
Um ponto muito importante para que a experi&ecirc;ncia ocorra &eacute; a disponibilidade de tempo. A experi&ecirc;ncia n&atilde;o &eacute; tarefeira. Como se observa no conto, o rei estava empanturrado de tarefas, e n&atilde;o tinha tempo para dar aten&ccedil;&atilde;o &agrave; sua ideia toda azul. Nesse sentido, a psicanalista Maria Rita Kehl diz que uma vida veloz, em que a gente passa de uma tarefa a outra, sem tempo para digerir o que nos acontece, tem sido o terreno f&eacute;rtil para a depress&atilde;o. O viver fica mec&acirc;nico e, assim como rei, a gente n&atilde;o tem tempo de dar aten&ccedil;&atilde;o ao que nos acontece, e vamos vivendo sem vontade e tempo de contar. Talvez, em um &aacute;lbum do Instagram, a &uacute;nica coisa que fica sejam mesmo as fotos, porque n&atilde;o tivemos tempo para apreciar o local, de interagir com as pessoas &ndash; n&atilde;o tivemos tempo para transformar aquelas viv&ecirc;ncias em experi&ecirc;ncias. O registro fica nas redes sociais, mas n&atilde;o na mem&oacute;ria, no afeto, no corpo.
Quando a grande est&oacute;ria da nossa vida acabar, ser&aacute; que teremos, de fato, pequenos epis&oacute;dios &ndash; experi&ecirc;ncias de vida, que ter&atilde;o valido a pena viver e contar, ou seja, teremos mesmo colecionado experi&ecirc;ncias?
*Francisco Neto Pereira Pinto &eacute; professor universit&aacute;rio, psicanalista e escritor. Autor dos livros &lsquo;&Agrave; beira do Araguaia&rsquo;; &lsquo;Saudades do meu gato Dom&rsquo;, &lsquo;O Gato Dom&rsquo; e &lsquo;Voc&ecirc; vai ganhar um irm&atilde;ozinho&rsquo;, todos dispon&iacute;veis na Amazon.&nbsp;

Era uma vez, em uma terra distante, onde a esperan&ccedil;a florescia e a pol&iacute;tica prometia um novo dia, um partido ascendente prometia um governo justo e igualit&aacute;rio. As massas, cansadas das velhas promessas, aderiram em massa a esse novo projeto. O palco estava montado para uma grande transforma&ccedil;&atilde;o. E assim &eacute;, desde muito, o cen&aacute;rio pol&iacute;tico brasileiro, meus caros leitores.&nbsp;
E essa &eacute; a novela mexicana chamada pol&iacute;tica brasileira, mas sem a leveza e o melodrama. &Eacute; uma trama complexa, repleta de reviravoltas, trai&ccedil;&otilde;es e, claro, uma dose generosa de corrup&ccedil;&atilde;o. Uma verdadeira com&eacute;dia dos erros, onde os personagens principais parecem mais preocupados em engordar suas contas banc&aacute;rias do que em servir ao pa&iacute;s. &Eacute; um festival de propinas, desvios de verba e contratos superfaturados. A cada esc&acirc;ndalo que vem &agrave; tona, o povo brasileiro exclama: "N&atilde;o acredito que eles fizeram isso de novo!" Mas a verdade &eacute; que, infelizmente, acreditamos sim.&nbsp;
Nosso sistema pol&iacute;tico, com suas in&uacute;meras falhas e brechas, &eacute; um convite irresist&iacute;vel &agrave; corrup&ccedil;&atilde;o. &Eacute; como um queijo su&iacute;&ccedil;o, cheio de buracos por onde a sujeira escorre. E os "queijos" mais famosos s&atilde;o aqueles que envolvem grandes obras p&uacute;blicas, como a constru&ccedil;&atilde;o de est&aacute;dios para a Copa do Mundo e os Jogos Ol&iacute;mpicos. Nesses casos, a corrup&ccedil;&atilde;o &eacute; t&atilde;o descarada que parece mais uma regra do que uma exce&ccedil;&atilde;o.
Tem um epis&oacute;dio inteiro sobre dinheiro na cueca, coisa da qual nunca tinha ouvido falar, s&atilde;o pol&iacute;ticos reunidos em banheiras de dinheiro. As notas de real, como patinhos amarelos, nadando alegremente, e a popula&ccedil;&atilde;o, cansada do lama&ccedil;al, aclamava um novo Messias de nome Moral que, com uma escova de dentes gigante e um tubo de pasta de dente m&aacute;gico, prometia limpar toda a sujeira da pol&iacute;tica.&nbsp;
Criando um novo reality show chamado lava carros, onde os detidos, em suas celas luxuosas, pareciam mais h&oacute;spedes de um hotel cinco estrelas do que criminosos. A cada pris&atilde;o, a audi&ecirc;ncia do programa aumentava, e a popula&ccedil;&atilde;o vibrava com cada novo cap&iacute;tulo da novela.
Mais tarde, por&eacute;m, a popula&ccedil;&atilde;o pode ter percebido tra&ccedil;os de um falso Messias, e a escova de dentes de Moral, antes m&aacute;gica, agora parecia mais um brinquedo.&nbsp;
Em meio a esse cen&aacute;rio ca&oacute;tico, os pol&iacute;ticos continuam a prometer um futuro melhor, mas na pr&aacute;tica, pouco ou nada muda. &Eacute; como assistir a um filme de terror em que o monstro sempre volta para assombrar as v&iacute;timas. E n&oacute;s, o povo brasileiro, somos as v&iacute;timas dessa hist&oacute;ria macabra.
Para mudar essa realidade, &eacute; preciso que haja uma mudan&ccedil;a radical na cultura pol&iacute;tica do pa&iacute;s. At&eacute; l&aacute;, continuaremos a acompanhar essa novela de corrup&ccedil;&atilde;o, torcendo para que um dia tenhamos um final feliz. Mas, sinceramente, n&atilde;o estou muito otimista. Afinal, como diz o ditado: "O brasileiro &eacute; cordial, mas a corrup&ccedil;&atilde;o &eacute; institucional".
Aguardemos ent&atilde;o as cenas dos pr&oacute;ximos cap&iacute;tulos!&nbsp;
P.S.: qualquer semelhan&ccedil;a com a realidade, &eacute; mera coincid&ecirc;ncia.&nbsp;
*Camila Silva &eacute; empres&aacute;ria, advogada criminalista e p&oacute;s-graduada em Ci&ecirc;ncias Criminais