Brazil, mostra a tua cara!
Sobre o antipatriotismo daqueles que se diziam patriotas ou dos brazileiros mais preocupados com os estados unidos (assim, no minúsculo) do que com o Brasil
Por: Marco Túlio Câmara
15/07/2025 • 16h47 • Atualizado
Nos últimos dias, uma série de ataques à soberania brasileira foi vista aos quatro cantos do mundo. Uma onda de autoritarismo, infantilidades (que me perdoem as crianças), petulância, mentiras e chantagens disfarçadas de política internacional ou relações diplomáticas. Aliado a isso, posicionamentos ufanistas vindo de onde não se esperava, casando com a atualização de uma novela do final da década de 1980 _ estaríamos, então, em um verdadeiro remake nacional?
De um lado, o enaltecimento das raízes brasileiras, mostrando o que temos de melhor no quesito exportação: símbolos, memes e diversão (além de todas as nossas produções e produtos, claro). Do outro, aqueles que se diziam patriotas apagando o verde e o amarelo, dando lugar ao vermelho e branco, ancorados na chantagem e em uma narrativa falaciosa de perseguição. Em comum, só o azul estrelado _que, no ambiente físico, perde cada vez mais brilho.

Foto: Antônio Cruz | Agência Brasil
Mais do que mostrar lados oponentes, o que temos em jogo, hoje, é mais profundo. De qual Brasil nos orgulhamos? O país acima de tudo, bradado anteriormente, só servia, então, como discurso falacioso que ancorava expressões similares a regimes ultranacionalistas? Se a nossa democracia é considerada frágil, o que dizer de uma que não respeita a soberania de nenhuma outra nação?
Consumo as notícias e análises, tento entender como chegamos até aqui, e me situar nesse imbróglio que começou na economia, mas repercutiu na política, nas relações internacionais e diplomáticas e, sobretudo, no pertencimento social. Porque ser uma nação vai além dos números de balanças comerciais. É identidade, é cultura, é orgulho, é formação social. Enquanto isso, só me vem à cabeça os versos do saudoso Aldir Blanc (irônico, não?) afirmando que o Brazil não conhece o Brasil. E concordo cada vez mais com ele.
Aqueles que tomaram nosso símbolo maior de nação para si, hoje em dia, só ligam para quem nomeia nosso país com a última letra do alfabeto. Talvez seja um sinal de onde, de fato, eles nos enxergam na fila do pão. Fila esta que vai ficar ainda mais cara, principalmente para eles, tornando o cafézin hipervalorizado (ou hipertaxado?) por lá. Do lado de cá, a resposta àquela figura com topete tal qual a maior vilã de novelas brasileiras, é direta: somos uma nação soberana por si só. Se querem vir atacar nossa independência, que arque com as consequências disso.
Após o noticiário em que a figura política máxima do Brasil defende nossa nação em horário nobre em rede nacional, começa a novela, em uma semana que se diz eletrizante. Na tela, o principal questionamento do folhetim: vale tudo para subir na vida? Gal Costa entoa para o Brasil mostrar sua cara. Na vinheta, tudo o que nos representa: vira-lata caramelo, diversidade religiosa, desigualdade econômica, café, samba, esporte, corrupção... e o pedido de Cazuza ainda ecoa: mostra a sua cara, Brasil!
O Brasil está mostrando. Mas e o Brazil? Onde se enfiou? Onde foi parar o patriotismo e a defesa da bandeira? Onde foi parar o orgulho nacional, mas que se vende ao estrangeirismo na primeira oportunidade?
Está lá. Fazendo chantagem, pedindo intervenção, invertendo valores, forçando um sotaque enquanto passeia pela Disney. “Em terra de Zé Carioca, Pato Donald morre afogado”. O novo ditado não é bem esse, eu sei, mas você entendeu. Ou, como os brazileiros, assim, bem em minúsculo mesmo, gostam: do you understand, my friend?
Marco Túlio Câmara é jornalista, escreve quinzenalmente neste espaço. Também é professor do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade da UFT. Doutor em Linguística Aplicada pela Unicamp, é autor de “Entrelinhas” e dos livros “Gestão de Conteúdo para Mídias Sociais” e “Planejamento Integrado de Comunicação”.