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Em nenhum instante, eu vou te trair

Em nenhum instante, eu vou te trair

Eu não apoio quem trai minha pátria, quem joga contra minha nação

Por: Marco Túlio Câmara

22/09/202512h23

Ruas lotadas, tomadas de verde e amarelo. Gritos de combate à corrupção, reclamação sobre políticos no poder. Se este texto estivesse sendo escrito 10 anos atrás, pensaríamos em outros atores políticos, outros pedidos de impeachment. Mas o tempo passou e tudo se reconfigurou. 

Importante sublinhar que, desta vez, não há cegueira partidária nem pedido de golpe, tampouco solicitações de atos inconstitucionais. Pelo menos do lado de cá. Porque lá no Congresso, esses meandros ainda ditam decisões que achavam que passariam despercebidas. Mas não desta vez.

Mais do que "o gigante acordar", o povo está exausto. Mais do que bandeiras partidárias, o que uniu essas milhares de pessoas em cada cidade foi a revolta com o que fazem conosco, eleitores e cidadãos honestos. Não se trata de esquerda X direita, Bolsonaro X Lula. Trata-se de justiça. Tanto do acesso a ela quanto das devidas consequências dos atos. A revolta é contra a impunidade. É pedir o básico que pessoas que cometam crimes paguem por isso. Quem não concorda com o que se levantou neste domingo, assina, nas páginas da história, o lado mais obscuro da política e da sociedade: não estar com o povo.

Foto: Reprodução | Instagram

Foto: Reprodução | Instagram



Aqui no Tocantins, absolutamente todos os deputados federais, que deveriam ser representantes da população, foram contra quem os colocou lá. Olhando apenas para os próprios interesses, legendas partidárias e cegueira institucional, foram unânimes em ir contra a equidade e isonomia. Foram contra o país, contra a nação, contra o povo.

Quando Belchior escreveu que nossos ídolos ainda eram os mesmos, não imaginava que meio século depois, entoaríamos com tanta veracidade e veríamos os mesmos artistas, que lutaram e resistiram bravamente contra a ditadura militar, saindo em defesa da democracia na luta contra outro golpe. Isso diz muito sobre o que consideramos, enquanto sociedade, o que é cultura e a quem damos palco e alcunha de artista. Arte é Política. Cultura é Política. Não existe nenhuma das duas sem a democracia. Posicionar-se e defender a liberdade não é se filiar a partido, mas sim defender que nossa bandeira seja erguida, nossa nação seja soberana. Quem não entendeu isso, também não entende o que é a arte, também não entende o que é a cultura.

Enquanto isso, no horário nobre ouvimos Gal Costa questionar quem paga pra gente ficar assim. Uma parte da música entoa que não vamos trair a nossa grande pátria. Diferente dos deputados que foram eleitos, diferente do ex-presidente e a família, que se preocupa com o lado de lá da América. A gente é da América do Sul, eles não vão saber. A gente mostrou nossa cara, mas não podemos parar por aí. De nada adianta discurso inflamado em defesa da liberdade e da democracia e continuar elegendo representantes que não representam.

Política é coletivo, não individual. Sociedade é brasileira, não estadunidense. Arte é reflexão e protesto, não objeto de like. 2026 tá bem aí. Eu não apoio quem trai minha pátria, quem joga contra minha nação. Eu mostrei minha cara e estou orgulhoso de estar do mesmo lado da história de verdadeiros artistas que tanto admiro. E você?

Marco Túlio Câmara é jornalista, escreve quinzenalmente neste espaço. Também é professor do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade da UFT. Doutor em Linguística Aplicada pela Unicamp, é autor de “Entrelinhas” e dos livros “Gestão de Conteúdo para Mídias Sociais” e “Planejamento Integrado de Comunicação”.

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