A esperança florescer
No sonho lindo de viver, Palmas se firma como realidade e esperança nos seus 36 anos.
Por: Marco Túlio Câmara
20/05/2025 • 15h41
Lembro do primeiro pôr-do-sol que vi aqui. Era março de 2022, tinha chegado naquela madrugada com duas malas, incontáveis dúvidas e uma esperança gigante de fazer daqui meu lar, ainda que temporário. Ainda com resquícios de chuva, o céu se abriu para que eu contemplasse o que me completasse pelos próximos anos. Aquele colorido tímido do céu, com um sol forte alaranjado se despedindo me mostrava que esse novo lugar me forjaria uma nova pessoa.
Tive o privilégio de acompanhar o fim do dia colorido pela janela da kitnet em que morei. Era um ritual sagrado: 17h28 eu já estava a postos para me teletransportar. Ainda que a rotina engolisse, ainda que o psicológico mexesse, ainda que a cabeça esquecesse. Era mirar o céu que tudo se fazia revolução aqui dentro.

Foto: Arquivo Pessoal
Mais do que cores, Palmas me trouxe intimidade. Talvez pelo jeito interiorano da capital mais nova do país, talvez pela pouca idade, talvez pelas mesmas pessoas que se encontrasse no supermercado ou no restaurante. Mas mais do que isso. A intimidade comigo mesmo. Foi aqui, sob o calor escaldante independente da época do ano, que olhei mais para mim mesmo – e percebi que esse é um movimento natural dos migrantes para cá. Foi aqui, sob o céu colorido e as araras azuis indo de uma árvore a outra, que sorri sem perceber – a tal da felicidade que tanto falam. Foi aqui, no caminho de poeira, ruas esburacadas, prédios abandonados que construí um caminho que é só meu – ou a estrada que faz o sonho acontecer, como diz meu artista preferido.
Da cultura local, absorvo o orgulho de pertencer. Ainda que munido de críticas sobre os altos preços de moradia e alimentação, a falta de diversidade na programação cultural, o pertencimento abraçado pelas quadras nos dá a sensação de comunidade que somente uma cidade tão calorosa pode proporcionar.
A cidade do sonho é a realidade dura de muita gente. Que cruza a capital em condições precárias de transporte, mas que também se delicia com o relaxamento no fim de semana. Que vê um horizonte de oportunidades a cada amanhecer como incentivo para seguir lutando. Que contempla o que há de vir com o sorriso cansado no rosto, mas se orgulha a cada vez que é citada mundo afora.
Se o pôr-do-sol é o desenho que se pinta o encerramento tranqüilo de um dia pesado e a esperança reluzente do que pode vir a acontecer, é esse o sentimento que me guia nesse quarto aniversário em que chamo esta cidade de lar. De esperança de que o alaranjado do céu colora o pensamento e imaginário de quem o vive, de horizonte farto de planos e sonhos que aqui se constroem e da força que as cores e os girassóis guardam.
Marco Túlio Câmara é jornalista, escreve quinzenalmente neste espaço. Também é professor do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade da UFT. Doutor em Linguística Aplicada pela Unicamp, é autor de “Entrelinhas” e dos livros “Gestão de Conteúdo para Mídias Sociais” e “Planejamento Integrado de Comunicação”.