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'Causa animal ficou invisibilizada por muito tempo', afirma MaryCats

Vereadora de Palmas conta os desafios da defesa dos direitos dos animais no estado

Por: Beatriz Pontes

19/08/202507h30

Natural de Araxá (MG), Mariana Carla de Almeida, 43 anos, conhecida no meio político e nas redes sociais como MaryCats (Podemos), consolidou-se como uma das vozes mais atuantes na defesa da causa animal no Tocantins. Chegou a Palmas ainda jovem, acompanhando a família, e desde então transformou o estado em lar e campo de militância.

Graduada em Administração de Empresas e doutora em Ciências do Ambiente, MaryCats é professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Eleita vereadora de Palmas em 2024, ela fala, em entrevista exclusiva ao Manchete do Tocantins, sobre seus planos no Legislativo e relembra a trajetória marcada pelo ativismo em prol dos animais.

A seguir, confira os principais trechos da entrevista:

Foto: Câmara Municipal de Palmas

Foto: Câmara Municipal de Palmas


Quando e por quê a causa animal virou sua bandeira?

Comecei a atuar na causa animal depois de fazer o resgate de uma cachorrinha chamada Dora. Na época, fui atrás de ajuda e entendi que as ONGs e os protetores da causa animal já estavam sobrecarregados, além de precisarem de apoio para a alta demanda de animais em situação de rua. A partir daí, fui criando laços mais fortes com a proteção animal. Comecei a resgatar, castrar e encaminhar os bichinhos para adoção.

Em 2016, com a necessidade de um espaço para abrigar os animais resgatados, construí um gatil, projeto voluntário voltado ao resgate, cuidado e adoção de cães e gatos em situação de abandono. Desde então, fui consolidando meu trabalho como protetora de animais, promovendo campanhas de adoção e ações de educação sobre bem-estar animal nas redes sociais.

Se pudesse definir o seu mandato em uma palavra, qual seria e por quê?

A palavra escolhida seria “ação”, uma vez que meu compromisso com a causa animal não começou no papel, começou com muito trabalho. Com cada resgate e animal abandonado que precisou de ajuda, vi na prática como a ausência de políticas públicas dificultavam ainda mais esse trabalho. 

Hoje, como vereadora, defendo um mandato da causa animal baseado na ação, lutando pela castração, vacinação e 'microchipagem' em massa, no combate aos maus-tratos e na conscientização da população sobre o bem-estar animal. 

Neste primeiro semestre, mesmo sem recursos destinados, já realizamos diversas ações que reforçam nosso compromisso com a causa animal e com a população de Palmas. Realizamos campanhas de vacinação, mutirões de castração, ações educativas em escolas, atividades em postos de saúde, iniciativas de promoção ao esporte, além de mais de 200 requerimentos e 23 projetos de lei. 

Mas nosso mandato vai além da causa animal, ele também trata de outros temas essenciais como saúde, infraestrutura, educação, esporte, direitos das mulheres e muitos outros. Seguimos trabalhando com compromisso, responsabilidade e muita ação. 

Acredita que a causa animal ainda é vista como secundária na política?

A causa animal ficou invisibilizada por muito tempo. Não tínhamos voz, e sinto que partimos do zero. Não tínhamos nada. Mas, felizmente, a população mostrou nas urnas que, sim, a causa animal é importante e precisa de atenção. Elegemos três vereadores da causa animal nas três maiores cidades do estado, e isso mostra que estamos no caminho certo. Tenho certeza de que vamos seguir avançando. 

Você considera ser uma mulher na política algo desafiador? Se sim, quais os desafios enfrentados? 

Acredito que os desafios são os mesmos e, felizmente nós mulheres, estamos cada vez mais ocupando espaços de liderança e mostrando que a política também se faz com sensibilidade. As mulheres têm uma forma mais empática de enxergar o mundo e estão à frente de causas que exigem essa visão, como a própria causa animal, em que a grande maioria dos protetores são mulheres. 

Em meio a tantos escândalos na política tocantinense, como a senhora acredita que a população ainda consegue manter a confiança nos seus representantes?

Através do trabalho que já vinha realizando, não precisei fazer promessas, apenas mostrei o que já venho desempenhando há anos. Durante o mandato, sigo na mesma linha, provando que ainda existem pessoas comprometidas e bem-intencionadas na política. Quando a população desacredita, acaba, muitas vezes sem perceber, fortalecendo aqueles que entram na política com más intenções. Uma das minhas principais bandeiras é justamente fazer um trabalho diferente, com um gabinete acessível, transparente e aberto às demandas da população. 

Como ampliar sua atuação na causa animal para além dos pets, incorporando temas como a proteção da fauna silvestre e os impactos do agronegócio? Pretende levar esse debate adiante ou acredita que é mais estratégico manter o foco em cães e gatos?

Pretendo, inclusive, citando um caso recente: uma arraia foi morta por um colaborador de um bar em uma praia de Palmas. Então, fiz uma série de solicitações para conscientizar a população sobre a presença desses animais, propondo a capacitação de colaboradores e empresários locais, com foco no manejo responsável e seguro da fauna silvestre que frequenta essas áreas. Também pedi a criação de alertas sobre conduta adequada e combate aos maus-tratos. Precisamos promover um convívio harmonioso entre pessoas e animais. Entendo que as praias são locais de lazer para a população e representam um importante ponto turístico e econômico da cidade, por isso, é fundamental que o respeito prevaleça. E isso começa com frequentadores conscientes. 

Existe um tabu quando se fala em bem-estar de animais criados para consumo? Como a senhora enxerga essa discussão? 

Ainda existe, sim. Como foi falado na última resposta, precisamos compreender o apelo social e econômico envolvido nessa questão. Não se trata de impedir o consumo de carne, mas de garantir uma legislação que assegure que esses animais sejam criados e manejados de forma digna e com respeito. Algumas práticas já vêm sendo discutidas e aplicadas em vários países, mas o Brasil ainda precisa avançar muito nesse tema. Por isso, é fundamental que essas práticas sejam incentivadas e fiscalizadas, promovendo um modelo de produção mais ético e responsável.

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