Vítima de violência doméstica tende a apresentar sinais de transtorno alimentar
Associação entre violência e transtornos alimentares pode trazer consequências graves à saúde
Por: Agência Bori
19/10/2025 • 18h00
Mulheres vítimas de violência doméstica têm maior probabilidade de adotar práticas não saudáveis de controle de peso, como provocar vômitos ou deixar de comer. A associação é ainda mais forte para as vítimas de violência física, conforme estudo de pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia.
A análise remete a dados coletados na cidade de Duque de Caxias (RJ), relativos a 847 mulheres que autodeclararam envolvimento em relações românticas ou íntimas nos 12 meses antecedentes. Sua idade média foi de 40 anos, variando entre 18 e 64; a maioria era da classe C (67%), não brancas (63%) e residia na mesma moradia que o parceiro (90%), que não esteve presente no momento da entrevista.
Foto: Freepik
A violência física foi reportada por 17% das entrevistadas e a psicológica, por 61%. Aproximadamente 20% exibiram ao menos um comportamento relacionado a transtornos alimentares, sendo a prática mais comum a de pular refeições ou comer muito pouco, relatada por 15,8% das entrevistadas. Os pesquisadores verificaram que a exposição a ambas as formas de violência aumentou a probabilidade de vômitos autoinduzidos, com associação mais forte para as vítimas de violência física - que também apresentaram maior probabilidade de pular refeições.
As causas de tal relação podem ser variadas, incluindo impactos da violência na insatisfação com a imagem corporal, dificuldades de regulação emocional e mudanças fisiológicas provocadas pela exposição prolongada ao estresse, que pode alterar padrões alimentares e impactar negativamente os processos metabólicos.
Segundo a pesquisadora Emanuele Souza Marques, o estudo é o primeiro a avaliar tal relação em um país de renda média, com resultados consistentes com a literatura científica de até então. “Até o momento, a maior parte das pesquisas vinha de países de alta renda. Além disso, usamos um questionário validado para medir a violência sofrida, o que dá maior confiabilidade aos nossos resultados".
Ela também ressalta a importância de que os resultados se tornem conhecidos pelos profissionais de saúde: “É importante estar atento a esta relação, de modo a abordar a questão de práticas alimentares inadequadas em pacientes que sofreram violência doméstica. Para as vítimas, é fundamental que recebam um cuidado de saúde integral, em que médicos, nutricionistas, endocrinologistas e psiquiatras estejam atentos a esses impactos da violência".

