O Tocantins é um dos estados com maior número de matrículas presenciais no ensino superior. Segundo o Censo da Educação Superior 2024, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o estado registrou 73% de alunos vinculados. 

O levantamento também apontou que o estado apresenta um dos menores índices de matrículas em cursos a distância. Segundo o Censo, há 4.051 estudantes matriculados na modalidade EaD por unidade da federação de localização da instituição.

Em entrevista ao Manchete do Tocantins, o vice-reitor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Marcelo Leineker Costa, comentou sobre os dados do Censo 2024, ensino a distância e permanência dos estudantes na instituição.

Confira a entrevista na íntegra:

Foto: Divulgação | UFT

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Por que o Tocantins registrou números baixos de matrículas no ensino superior a distância e maior concentração (73%) no ensino presencial da rede federal?

A minha interpretação é de que o Censo 2024 indica que, embora o ensino a distância (EaD) tenha superado nacionalmente o número de matrículas presenciais, o Tocantins apresenta comportamento diferente devido a características regionais e institucionais.

A Universidade Federal do Tocantins (UFT) concentra a maior parte da oferta pública de ensino superior no estado, em conjunto com UFNT, IFTO e Unitins, e mantém forte presença de cursos presenciais, especialmente em áreas de formação profissional e tecnológica, que exigem infraestrutura laboratorial e atividades práticas. 

Adicionalmente, temos que considerar que a rede privada de EaD tem penetração menor em municípios de pequeno porte e a conectividade ainda é limitada em várias regiões do estado. Por isso, acredito que o resultado do Censo apenas indica que a cultura de ensino presencial é mais consolidada na rede pública, que absorve 73% das matrículas presenciais no Tocantins.

Como o ensino a distância vem se tornando uma alternativa procurada pelos tocantinenses?

Apesar dos números ainda modestos, o EaD vem crescendo de forma consistente no Tocantins, acompanhando a tendência nacional de expansão acentuada (+256% entre 2018 e 2024). Esse crescimento é impulsionado por alguns fatores:

Interiorização da educação superior: o EaD permite que estudantes de municípios distantes dos polos universitários tenham acesso ao ensino superior;

Flexibilidade de horários e custo reduzido, que são fatores decisivos para trabalhadores e pessoas com responsabilidades familiares;

Avanços nas plataformas virtuais e polos de apoio, com crescente investimento em recursos tecnológicos e tutoria especializada.

Assim, o EaD tem se tornado uma alternativa viável para grupos que tradicionalmente encontravam barreiras de acesso.

Quais os desafios para a permanência dos estudantes e as medidas da UFT contra a evasão?

Segundo os levantamentos realizados pela Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior,  pelo MEC e também TCU e CGU entre os principais desafios de permanência estão:

Dificuldades socioeconômicas, agravadas pelo custo de deslocamento, moradia e alimentação;

Carência de conectividade e equipamentos, sobretudo entre alunos do EaD;

Desmotivação e fragilidade na adaptação à vida acadêmica, com impacto na evasão nos dois primeiros anos.

A UFT tem adotado um conjunto de ações institucionais para mitigar a evasão:

Assistência estudantil via PNAES (bolsas, moradia e alimentação e saúde);

Apoio psicopedagógico e tutoria acadêmica;

Programas de nivelamento e monitorias;

Flexibilização curricular e oferta de disciplinas híbridas;

Acompanhamento de desempenho e políticas de reingresso para alunos afastados.

Essas medidas integram a política de permanência estudantil e refletem o compromisso da UFT com o acesso, a equidade e a conclusão dos cursos. Destacando que o desafio da permanência é maior na região norte, devido a fatores singulares, como a baixa densidade demográfica e também fatores socioeconômicos. Na UFT cerca de 83% dos estudantes são de núcleos familiares com renda per capita abaixo de 1,5 salários mínimos. 

Como a UFT avalia a demanda e o potencial de crescimento dos cursos EaD no Tocantins?

A UFT reconhece o alto potencial de crescimento da modalidade EaD no estado, especialmente em áreas de formação de professores, gestão pública e tecnologia, alinhadas às demandas do serviço público e do mercado regional.

O cenário demográfico e geográfico, com ampla dispersão populacional e municípios de difícil acesso, reforça a necessidade de expansão da oferta EaD com polos regionais integrados e infraestrutura digital robusta, desde que de forma planejada e integrada com os municípios que os recebem.

A tendência observada no Censo 2024 de ultrapassagem das matrículas EaD sobre o presencial em nível nacional serve de referência para o planejamento estratégico da UFT.

Como é o ensino a distância na UFT e quais os cursos mais concorridos?

O ensino a distância na UFT é ofertado por meio do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). A universidade dispõe de polos presenciais em diferentes municípios tocantinenses, assegurando acompanhamento acadêmico, avaliações e atividades práticas. Os cursos mais procurados são: licenciaturas em Pedagogia, Matemática e Biologia que atendem à meta de formação de professores do PNE.

A UFT tem buscado aprimorar o modelo pedagógico do EaD, integrando metodologias ativas, recursos multimídia e ambientes colaborativos, consolidando a modalidade como eixo estratégico de expansão da educação superior pública no Tocantins.