Pescadoras artesanais no Brasil ganham 27% menos do que os homens, aponta estudo
Desigualdade é marcante nas regiões Norte e Nordeste do país
Por: Mavi Oliveira
24/09/2025 • 19h00 • Atualizado
Dos mais de dois milhões de pessoas na pesca artesanal no Brasil, mais da metade são mulheres. Entretanto, um artigo publicado na revista "Fish and Fisheries" aponta que as pescadoras recebem, em média, remuneração 27,5% menor que a dos homens. Elas também têm menos acesso a benefícios sociais como o seguro-defeso, uma compensação financeira paga pelo governo durante os períodos de restrição à pesca.

Foto: Fernando Frazão | Agência Brasil
A desigualdade é ainda mais presente no Norte e no Nordeste, onde elas têm ampla presença, especialmente no Maranhão, no Pará e na Bahia. Nessas regiões, até 85% das pescadoras vivem com menos de US$ 150 por mês (cerca de R$ 735), valor insuficiente para atender necessidades básicas.
A pesquisa, conduzida por cientistas das universidades federais do Pará (UFPA), da Bahia (UFBA), do Ceará (UFC), do Rio Grande do Norte (UFRN), Fluminense (UFF) e Universidade de São Paulo (USP), reuniu dados demográficos, históricos e socioeconômicos sobre desigualdades de gênero na pesca artesanal a partir de fontes como Ministério da Pesca e Aquicultura e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo aponta que as contribuições das pescadoras permanecem invisíveis em políticas públicas e estatísticas oficiais. Grande parte delas atua na coleta de mariscos em manguezais e áreas costeiras. Como explica o pesquisador da UFBA, José Amorim Reis-Filho, essas práticas são mais sustentáveis e têm menor pegada de carbono do que a pesca embarcada, que usa combustíveis fósseis e é geralmente conduzida por homens.
Segundo José é urgente retomar o monitoramento pesqueiro a nível nacional, que ficou em operação por quase 60 anos e foi descontinuado em 2011. “Simplesmente não sabemos o que pescamos, e isso envolve homens e mulheres. Sem conhecermos os dados de esforço e captura, é realmente desafiador pensar em políticas direcionadas para ambos os gêneros”, pontua.