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Pandemia intensificou automutilação em adolescentes, aponta estudo

Tentativas de suicídio, por outro lado, não cresceram no mesmo ritmo

Por: Agência Bori

28/09/202518h30

A pandemia de covid-19 ampliou os casos de automutilação não suicida entre adolescentes, conclui um novo estudo, uma revisão sistemática realizada pelos pesquisadores do Centro de Tecnologia em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG e publicado na revista Frontiers in Psychiatry. Foram analisados os dados quantitativos relacionados a suicídio e a automutilação entre adolescentes a partir de 55 trabalhos feitos mundo afora, com dados de adolescentes entre 10 e 19 anos de idade.

Um dos estudos incluídos, realizado na Suécia, mostrou que a prevalência de automutilação passou de 17,6% antes da pandemia para 27,9% durante o período pandêmico. Entretanto, a síntese global da revisão indica um aumento ainda mais expressivo: de uma prevalência média anual de 0,056% (2010–2019) para 0,61% (2020–2024), representando quase dez vezes mais casos após o início da pandemia. 

Foto: Freepik

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Tentativas de suicídio, por outro lado, não cresceram no mesmo ritmo. Os cientistas usaram o protocolo Prisma (diretriz para organizar e tornar transparentes revisões sistemáticas clínicas) e registraram os dados no sistema Prospero (registro público de protocolos de revisões sistemáticas), como determinam as mais recentes diretrizes de pesquisas do tipo.

Segundo Danilo Ferreira, que conduziu o estudo, o padrão dos fatores inclui: isolamento social, uso excessivo de telas, conflitos familiares, dificuldades escolares e sintomas depressivos. Ele destaca que contexto social e emocional são de grande importância para o bem-estar dos jovens. “Não basta focar só na prevenção do suicídio. A automutilação cresceu significativamente e pode ser porta de entrada para problemas mais graves”, avalia o pesquisador.

Compreender esses fatores ajuda a identificar sinais de alerta, como ferimentos repetidos, mudanças de comportamento ou isolamento, afirma a pediatra Débora Miranda, coautora do trabalho. “Escolas e famílias precisam estar atentos para identificar os adolescentes em sofrimento psíquico e encaminhá-los precocemente para tratamento especializado.

Os autores propõem estratégias como capacitar professores para identificar risco, oferecer apoio psicossocial a famílias vulneráveis, criar serviços de saúde acolhedores e campanhas capazes de reduzir o estigma e incentivar a busca por ajuda. O psiquiatra Marco Aurélio Romano-Silva, também coautor, reforça que políticas públicas precisam considerar gênero, desigualdades e vulnerabilidades que foram ainda mais impactadas pelo fenômeno. Adolescentes vindos de famílias marcadas pelas perdas vividas na pandemia estão entre os mais impactados.

Os próximos passos para entender o aumento da automutilação entre os jovens incluem ampliar pesquisas longitudinais, capazes de acompanhar adolescentes ao longo do tempo e melhorar a representação de regiões como América Latina e África nos estudos.

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