Ataques de piranhas em Palmas: o que provoca e como se proteger
Presença de filhotes, restos de comida na água e hábitos dos banhistas explicam aumento das ocorrências
Por: Mavi Oliveira
08/07/2025 • 17h01 • Atualizado
Com ao menos quatro ataques de piranhas registrados no último fim de semana, a Praia do Caju, em Palmas, acendeu um alerta para os riscos aos banhistas durante a alta temporada. A combinação entre presença de filhotes da espécie, oferta de alimentos na água e descarte irregular de comida atrai os peixes e eleva o risco de mordidas, segundo especialistas.

Foto: Divulgação
O professor doutor Mac David da Silva Pinto, do curso de Ciências Biológicas do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), explica que os episódios não são atos de ataque deliberado, mas um comportamento natural das espécies para proteger seus filhotes.
“A população geralmente se ‘alimenta’ próximo ou dentro da água e as espécies estão por ali nadando em busca de alimento. E os (animais) adultos não vão sozinhos, a prole acompanha”, conta, em entrevista ao Manchete do Tocantins. “Quando o adulto sente uma ‘ameaça’ à prole, se defende da forma que pode. Geralmente com uma mordida".
De acordo com ele, três espécies de piranhas nativas e endêmicas da região neotropical habitam o rio Tocantins, e todas apresentam características ecológicas que favorecem esse tipo de reação defensiva. “Qualquer uma das espécies tem duas características ecológicas muito significativas: o cuidado parental (os adultos cuidam da prole) e, em razão dos reservatórios - no caso do Lago da UHE Lajeado (Lago de Palmas) — oferecem habitats propícios ao crescimento e desenvolvimento dos juvenis (filhotes)”, explica o biólogo.
Esses habitats costumam se formar próximo às margens, onde há vegetação aquática como bancos de macrófitas, justamente em áreas utilizadas por banhistas. A combinação entre a presença de filhotes e restos de comida jogados na água forma o cenário ideal para as ocorrências.
Em uma análise realizada entre 2014 e 2015, o professor identificou que de 15% a 25% do conteúdo estomacal das piranhas examinadas era composto por restos de comida humana. “As piabas são a principal fonte de alimento das piranhas, mas nós encontramos nos estômagos das piranhas... alimento de origem externa (resto de comida humana)”, pontua.
Agressividade
O doutor em Ecologia e professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Carlos Sérgio Agostinho, reforça a tese de que os peixes agem por instinto protetivo, especialmente em relação à prole.
“Geralmente a mordida ocorre nos pés e cada banhista é mordido apenas uma vez. As piranhas apresentam diferentes graus de agressividade diante da chegada de um possível predador. Felizmente, as espécies de piranhas mais agressivas são as de pequeno e médio porte. A piranha de maior porte, apesar de cuidar da prole, abandona a prole quando um predador de grande porte se aproxima”, detalha.
Prevenção e atuação dos bombeiros
Com a chegada da temporada de praias, a Prefeitura de Palmas iniciou ações de manutenção em diversas áreas de lazer da capital. Na Praia do Caju, a principal demanda foi a troca da tela de proteção na área de banho, medida que visa conter a aproximação de piranhas. A ação contou com apoio da Marinha, do Exército e do Corpo de Bombeiros.
Segundo o prefeito em exercício, Carlos Velozo (Agir), as demais praias também estão sendo atendidas conforme as necessidades específicas de cada local. Estão em curso ações como capina, rastelagem, retirada de entulho e nivelamento da areia nas praias das Arnos, do Buritis e do Caju, além de varrição e remoção de terra na Orla da Graciosa.
O Corpo de Bombeiros informou que atua em cerca de 40 praias no Tocantins - em 20 delas com equipes de militares e nas demais com guarda-vidas civis formados pela corporação. A recomendação principal aos banhistas é não jogar alimentos ou restos de comida na água, para não atrair piranhas.
Caso ocorra uma mordida, a vítima deve sair da água imediatamente, já que o sangue pode atrair mais peixes. O local do ferimento deve ser lavado com água limpa e sabão para evitar infecções.