Mobilidade urbana no Tocantins precisa de soluções urgentes, diz especialista
Falhas na mobilidade urbana afetam integração social e ampliam exclusão
Por: Maria Rita Silva Sena
06/10/2025 • 07h30
As cidades médias do Tocantins enfrentam desafios estruturais que afetam diretamente a vida da população. Transporte público precário, ruas sem calçadas ou ciclovias e a falta de planejamento urbano inclusivo dificultam a mobilidade e aumentam a desigualdade social.
Em entrevista ao Manchete do Tocantins, o arquiteto e urbanista Pedro Igor Galvão, formado pela UFT e mestre em Ciências do Ambiente, detalha os problemas e sugere soluções práticas para tornar a circulação urbana mais eficiente e justa.
Confira a entrevista na íntegra:

Foto: Divulgação | Universidade de Nottingham
Quais são os principais desafios de infraestrutura das cidades médias tocantinenses?
Os principais desafios de infraestrutura das cidades médias tocantinenses não podem ser vistos de forma isolada, como se fossem problemas específicos de um conjunto restrito de municípios. Eles se inserem em um processo mais amplo de urbanização desigual do Brasil, marcado desde a colonização pela concentração da terra, pela exclusão das populações negras e pobres e pela falta de acesso universal à cidade.
Como isso se manifesta nas cidades médias do Tocantins?
Palmas, Araguaína, Gurupi, Paraíso do Tocantins e Porto Nacional concentram serviços essenciais como hospitais, escolas e universidades, mas convivem com bairros periféricos carentes de infraestrutura básica. Isso cria uma desigualdade visível: enquanto moradores de áreas centrais têm acesso a transporte, saneamento e lazer, os moradores de periferias muitas vezes enfrentam ruas sem pavimentação, drenagem precária e coleta de lixo irregular. Esses problemas estruturais não apenas afetam a qualidade de vida, mas também dificultam a integração social e econômica dos cidadãos, reforçando a segregação urbana.
Quais são os principais desafios da mobilidade urbana?
Os principais desafios incluem deficiências no transporte público coletivo, que em muitos casos é inexistente ou pouco eficiente, calçadas inadequadas ou inexistentes, ausência de ciclovias, pouca arborização urbana e falta de integração entre modais.
Como esses problemas afetam o cotidiano das pessoas?
A falta de transporte público estruturado obriga muitas pessoas a dependerem de carros particulares ou de trajetos a pé em condições precárias. A ausência de ciclovias e calçadas acessíveis limita o deslocamento de pedestres, cadeirantes e ciclistas, tornando a mobilidade urbana desigual e perigosa. Além disso, a pouca arborização contribui para desconforto térmico, tornando deslocamentos simples - como ir ao trabalho, à escola ou ao hospital - desgastantes e, muitas vezes, inviáveis durante períodos de calor intenso ou chuvas.
Quais soluções de curto prazo poderiam melhorar o cotidiano da população?
Expansão e regularização das linhas de ônibus, construção de ciclovias seguras e arborizadas, padronização de calçadas, rampas e sinalização, garantindo acessibilidade universal para pedestres, idosos e pessoas com deficiência, e integração dos 'caminhos reais' criados pelos pedestres ao planejamento urbano.
Qual o impacto dessas soluções na desigualdade social?
Essas soluções não apenas melhoram a mobilidade, mas também ajudam a reduzir desigualdades sociais, ao conectar periferias distantes aos centros urbanos. A integração de 'caminhos reais' - atalhos usados diariamente pela população - ao planejamento urbano reconhece práticas sociais existentes e transforma o espaço público em um lugar mais inclusivo. Além disso, a criação de ciclovias e calçadas arborizadas contribui para o conforto térmico e incentiva meios de transporte sustentáveis, reduzindo a dependência de carros e promovendo uma mobilidade mais saudável.
Qual o papel do transporte público na redução das desigualdades?
Ele representa a principal alternativa para integrar periferias distantes aos centros urbanos. Durante metade do ano, chuvas intensas tornam os deslocamentos a pé difíceis; na outra metade, o calor extremo torna inviável caminhar longas distâncias sem conforto. Nessa realidade, o transporte coletivo é essencial para garantir deslocamentos seguros, dignos e acessíveis.
Por que o transporte público é tão importante para trabalhadores das periferias?
O transporte público é vital para trabalhadores que vivem em bairros segregados e precisam se deslocar diariamente para escolas, hospitais e centros de trabalho. Sem ele, a segregação urbana se intensifica e a exclusão social se mantém, dificultando que as pessoas tenham acesso a oportunidades iguais.
Se tivesse que apontar uma prioridade urgente, qual seria?
Se eu tivesse que apontar uma prioridade urgente, seria a universalização do saneamento básico junto com a melhoria do transporte coletivo. Esses dois pontos são estruturantes porque atacam diretamente as desigualdades mais profundas. Sem esses dois pilares - saneamento e transporte coletivo de qualidade - a cidade permanece excludente e fragmentada. Com eles, abre-se caminho para todas as outras transformações necessárias.